Arquivo

Notas de Rodapé

1.Pensei que fosse mais um sinal avulso do meio cultural luso, tão terrivelmente pródigo em excepções, mas pelo volume que se vai constituindo na minha mesa, a coisa parece séria!

1.1.Têm sido estimulados os meus tímpanos nos últimos tempos com um assinalável número de edições discográficas nacionais. O produto interno musical está a crescer.

1.2. Nunca foi tão fácil gravar música como agora, e fazer desse acto inicial prova ao mundo de mais um projecto musical. Mas como é óbvio, os diabolizadores do elemento tecnológico vêem nesta democratização de produção apenas riscos e imputam à vulgarização hi-tech o estrangulamento do mercado, via pirataria. O efeito tecnológico é nos dias que corre de tal forma estruturante que possibilita o acesso a fabulosos universos criativos, com uma excelente relação entre custos e qualidade de registo (embora o I.V.A. sobre instrumentos e afins tenha de ser um ponto a rever quando existir política cultural neste País). Isto vem possibilitar sucessivos gritos de Ipiranga, face a ditadura dos balanços e balancetes das majors discográficas. Surgem as edições de autor e as interessantes indies que de forma mais aventureira, livre e romântica se lançam na edição de registos que de outra forma não conheceriam a luz do dia. O cliente geralmente sai beneficiado por preço e diversidade.

1.3.Segmentação de mercado possibilita alimentar as necessidades de um “novo” conjunto de ávidos ouvintes, mais sensíveis a criação nacional. Digo isto porque conheço um número significativo de pessoas que adoptaram um interessante comportamento face a música feita dentro de portas.

1.4. Tratam a música portuguesa com regime de excepção, dando prioridade as edições nacionais no seu cestinho de compras. O resto fica para depois, ou é captado em mp3/CD-R. Algo de novo se está a passar nos hábitos de consumo discográfico de alguns portugueses, e não me parece que isso corresponda a um certo comportamento proteccionista bacoco, num cenário onde a percentagem de bandas a optarem pela comunicação em outros idiomas que não o português é manifestamente alta. Tem a ver com a qualidade do produto e com a forma mais atractiva e competente como se apresentam as bandas.

1.5.Começam a estar reunidas as condições para o combate gradual do mais terrível e nefasto veneno que vem sendo destilado desde já longa data sobre a música moderna portuguesa, o da inferioridade. “Para disco português, não está mal”.

1.6. Espero que vos sirva o exemplo que se segue como contraponto ao derrotismo dominante.

1.7. O projecto Mourah (From One Human Being To Another) *****, apesar de ter em 2003 o seu ano de registo, salta para 2004 cheio de vigor. Do meio das montanhas Suíças, depois de Mãozinha, chegou eco de um extraordinário exercício sonoro de um compatriota, onde acima de tudo se nota um trabalho cuidado. O reflexo está não só no belíssimo novelo de suaves texturas electrónicas, inteligentemente envolventes, mas também no tratamento visual. O videoclip de “Butterfly” é um poema.

1.8.Não me ficarei por aqui, tenho outros trunfos guardados para a semana que vem.

Por: Bruno Reis

http://girariscos.blogspot.com/

Sobre o autor

Leave a Reply