Apesar do atraso de cinco meses finalmente foi divulgado o relatório referente ao “Controlo da Qualidade da Água para Consumo Humano” respeitante ao ano de 2002. A elaboração deste relatório, antes da responsabilidade do Instituto do Ambiente, pertence agora, e desde Dezembro de 2003, ao Instituto Regulador de Águas e Resíduos. Este documento divulga os resultados anuais do controlo analítico efectuado pelas entidades gestoras dos sistemas de abastecimento publico e constitui assim, uma fonte importante para se averiguar o ponto da situação sobre a água que andamos a beber.
Quem ler o documento, rapidamente conclui que as entidades gestoras nacionais são completamente incapazes de garantir a qualidade da água que bebemos, apesar dos sistemáticos investimentos que se têm efectuado todos os anos. Ou seja, a situação da qualidade da água de consumo é dramática em Portugal. Das 308 entidades gestoras portuguesas apenas 11 efectuaram a totalidade do numero de análises obrigatórias previstas na legislação e apenas 4 ficaram fora de situações de incumprimento relativamente aos Valores Máximos Admitidos de cada parâmetro analisado.
Os Serviços Municipalizados da Guarda são os responsáveis na cidade por efectuar estes controlos e não constam das 11 entidades acima citadas. Aliás, nenhuma outra entidade gestora deste Distrito está incluída no lote de entidades que efectuaram a totalidade das análises obrigatórias previstas na lei. A Inspecção Geral do Ambiente é responsável pela fiscalização e pela aplicação das contra-ordenações previstas nos casos de incumprimento da legislação e não tem actuado. Enquanto isso continuamos sem ter a certeza que estamos a beber água de qualidade, pois não são efectuadas todas as análises obrigatórias, e as entidades gestoras continuam a passar impunes por falta de actuação das entidades fiscalizadoras.
A situação da água é por demais alarmante quando, e só para referir alguns números, sabemos que apenas 1% dos recursos hídricos do planeta estão disponíveis para consumo humano; 1,2 mil milhões de pessoas não têm acesso a água potável segura; 20 % das águas superficiais da União Europeia correm risco de poluição; 80 % das doenças nos países em desenvolvimento são devidas a água insalubre, etc.
Assistimos, há semanas atrás a uma onda de entusiasmo motivada pela qualidade do ar que respiramos aqui. Congressos, opiniões médicas, especialistas nacionais e internacionais, Centro Bioclimático …. enfim, tudo pelo bom ar que temos.
Contudo, de uma coisa estejamos certos: de nada nos servirá respirar bom ar se andarmos a beber má água. Compomos por um lado, estragamos por outro!
Mais do que darmos graças pela qualidade do ar (esse já é bom) preocupemo-nos mais com a qualidade da água, que não sabemos como está.
Respire fundo, beba um copo de água … e pense!
Por: João Nuno Pinto