A situação na maternidade do hospital Pêro da Covilhã parece ter normalizado com a reabertura na semana passada daquela valência no Sousa Martins. Até à última segunda-feira não foram atendidas parturientes do distrito guardense e as que foram observadas após a reabertura da maternidade «já se encontravam» na Covilhã, garante Francisco Elias, director do serviço de obstetrícia da unidade hospitalar da “cidade neve”. Mas se a equipa da maternidade conseguiu assegurar as grávidas da Guarda, o mesmo já não se pode dizer da Pediatria, que tem tido problemas por causa da situação existente no hospital da Guarda.
«Há quatro anos que andamos a sofrer por causa da pediatria da Guarda», desabafa João Gomes, director clínico do hospital da Covilhã. É que todos os anos abrem vagas de carenciados apenas para a Guarda enquanto que as restantes unidades continuam sem poder reforçar o seu quadro de serviço. «Temos apoiado essa política porque achamos que a Guarda deve ter Pediatria. Mas a verdade é que temos sido todos prejudicados», continua João Gomes, constatando que os pediatras acabam por ser colocados no Sousa Martins por pouco tempo. As polémicas à volta do hospital, o ambiente interno e a instabilidade poderão ser as causas para que os profissionais recusem exercer na Pediatria da Guarda, mas o director clínico recusa entrar em polémicas. «O serviço [de pediatria] tem estado calado, mas começa a ser complicado», avisa o médico, visto que dos sete pediatras existentes na Covilhã apenas cinco asseguram as urgências. Um dos pediatras não faz urgências por já não ter idade para tal, enquanto que o outro apenas faz diurnos, também por causa da idade avançada. Facto que se agrava quando se atende «190 crianças por dia», como aconteceu este ano. «É cansativo. Precisávamos de mais pediatras», reclama João Gomes, que assiste há quatro anos ao problema da pediatria da Guarda sem qualquer resolução à vista.
Pediatria com falta de especialistas
O problema é que os médicos «não estão a ser colocados noutros hospitais, pois vão todos para a Guarda, onde nunca se fixam», refere. Daí que os problemas na Guarda em nada beneficiam a estrutura hospitalar da cidade vizinha. «Nunca fizemos nada para o encerramento da maternidade da Guarda. Antes pelo contrário, até estamos a ser prejudicados», garante João Gomes, não só por causa da pediatria, mas também devido ao excesso de trabalho que sobrecarregou os médicos da Covilhã sem que tenham recebido mais por isso. «Estamos a fazer o nosso trabalho e parece que somos o maior inimigo da Guarda», lamenta, referindo-se a algumas das críticas que foram apontadas à unidade covilhanense na última semana.
O director da Pediatria do Hospital Pêro da Covilhã, Carlos Rodrigues, assegura que tem havido uma «sobrecarga» no serviço de há quatro anos a esta parte. Os recursos humanos são «poucos» para fazer face ao «aumento do volume de trabalho» registado pelo facto do serviço ter vindo a ser constantemente procurado «em todas as áreas», desde internamentos, consultas ou urgências. «Ao longo destes anos não temos vagas de carenciados nem grandes possibilidades de aumentar o número de pediatras ao nosso dispor», salienta Carlos Rodrigues, o que impossibilitará um maior «crescimento científico e de investigação», bem como a formação de pediatras e internos de especialidades.
Novo sistema de triagem na Pediatria da Covilhã
O serviço de Pediatria do Hospital Pêro da Covilhã está a preparar um novo sistema de triagem para as crianças, face à grande afluência de utentes nos últimos tempos. Estabelecer prioridades consoante os casos mais graves e não pela hora de chegada é o objectivo deste novo modelo, que já está a ser montado. Trata-se de um método um pouco diferente do “Protocolo de Manchester”, modelo que começou a funcionar nas urgências da Covilhã em Janeiro e que tem por base alguns fluxogramas que vão discriminando a real situação do doente. Tanto quanto adiantou Carlos Rodrigues, a criança será inicialmente avaliada de «forma rápida» por enfermeiros que vão ter formação específica nesta triagem, sempre acompanhados, de resto, pelo pediatra de serviço. Mas mais pormenores só lá para adiante. Para já, o importante é criar as condições físicas e de formação pessoal necessárias para o arranque do modelo a «cem por cento», tendo já sido contratados mais enfermeiros para o serviço.
Liliana Correia