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Notas de Rodapé

1.As nomeações e atribuições de Oscars no que toca a música (Banda Sonora Original e Canção Original) têm revelado nos últimos anos por parte da academia, uma certa urticária ao fenómeno pop-rock. Impera desde já longa data um certo formalismo estilístico que impede que linguagens mais afastadas das orquestrações pomposas e de múltiplos arranjos (tipificadas nas Disney songs) se intrometam na corrida da estatueta dourada. Não querendo ser aborrecidamente exaustivo, bastara olhar de relance para os últimos 10 anos de cerimónias para perceber que só em raríssimas excepções é que se admitiram outros sons. Talvez o facto mais surpreendente tenha ocorrido no ano de 2002 quando Eminem (Marshall Mathers) ganhou com Lose Youself (8 Mile). Foi quebrada a maçadora tendência de brincar aos clássicos. È que o preconceito surdo não acaba apenas na quantidade de decibéis que podam ser debitados, vai mais além, vetando o acesso a um determinado sector que se manobra nas “franjas”. Só assim se percebe que magistrais peçam originais como; City Girl de Kevin Shields (Lost in translation) e Man of the Hour dos Pearl Jam (Big Fish) tenham sido mandadas as urtigas.

2.Como grande balanço do Internacional Music Market que é o Midem, tivemos este ano em vez de excitantes propostas musicais a previsão de uma morte anunciada. Não existiu entre nós rádio e jornal que não pegasse nas declarações do Sr. Josh Bernoff, um analista de mercados, para fazer das suas palavras notícias de espanto e alarde. Isto porque o cavalheiro veio anunciar o resultado de uma investigação feita nos Estados Unidos, em que marca o enterro do compact disc para o ano de 2007. Segundo constatou o estudo deste investigador a maior parte dos jovens decidiu substituir as idas as lojas de discos por viagens ao ciberespaço, onde através do efeito download adquirem as suas músicas predilectas.

Não sei o porquê de tanta admiração. Ora todos nós sabemos que a compra de discos tem decrescido de forma generalizada, em grande culpa pelos preços exorbitantes praticados sobre as rodelas digitais, o que leva a que haja quem abdique deste bem de luxo (Iva a 19%). Os primeiros a tomarem esta medida drástica são os que não são financeiramente auto-suficientes, os jovens. Mas como “a importância da música nas práticas e consumos culturais dos mais jovens é dado recorrente, observado em todos os inquéritos e estatísticas” (Abreu, 2000:137)*, novas formas de acesso a este precioso bem são equacionadas. A vulgarização tecnológica permite uma nova relação com o produto cultural, disco. Existe uma lógica economicista que me leva a fazer o seguinte raciocínio em voz alta; “O equivalente ao preço de um disco paga a mensalidade da Internet e isso permite “sacar” downloads em abundância e com boa qualidade”. Mas nem todos se deixam encantar pela desmaterialização musical e não se contentam com os mp3, desejam possuir entre suas mãos o objecto como tal, com capas e caixa. Talvez por isso se explique que a partir do ano 2000 a transacção de discos piratas no nosso país tenha crescido na ordem dos 200%, valor com tendência para continuar a aumentar nos próximos anos. As pessoas não deixaram portanto de gostar de música, sobretudo os mais jovens, a substituição do disco original por uma cópia ou mp3 não foi feito de ânimo leve, foi a resposta a uma indústria discográfica que continua a teimar em querer ganhar tudo de uma só vez. Poderá ser que se antecipe 2007.

*ABREU, Paula (2000), “Práticas e consumos de música (s): Ilustrações sobre alguns novos contextos da prática cultural” in Revista Critica de Ciências Sociais Nº 56 – 2000, pp. 123-147.

Por: Bruno Reis

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