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Um Minuto de Silêncio

Quebra-Cabeças

O Presidente da Câmara de Marco de Canavezes, espectador de um jogo de futebol em que intervinha o clube da sua terra, decide a determinada altura invadir sozinho o campo. O pretexto era uma decisão do árbitro. É claro que um comportamento desses só pode lembrar a adeptos de clubes pequenos, mas não é disso que aqui tratamos. O que interessa, se é que verdadeiramente interessa, é a sequência grotesca que as televisões mostraram: um autarca em contas com a justiça, algo gorducho (ou era da roupa que vestia), e desajeitado, a ameaçar que batia em toda a gente (“mas segurem-me…”) e a ser impedido de o fazer, se queria realmente fazê-lo, por alguns soldados da GNR com mais juízo e mais sentido do ridículo do que ele. Para além disto, sobre ele sabemos ainda o seguinte: depois de mais de vinte anos como presidente da Câmara de Marco de Canavezes, que deixa em situação de quase falência, vai candidatar-se agora por Amarante, uma terra maior, com maior capacidade de endividamento.

Um ex-autarca de Vila Verde encontra-se na iminência de ser preso. Abílio Curto “recolheu” ao Estabelecimento Prisional da Covilhã, onde vai cumprir uma pena de prisão. Fátima Felgueiras não se encontra recolhida numa prisão qualquer porque lhe ocorreu fugir antes para o Brasil. Aguarda em segurança e ao sol um julgamento que poderia colocá-la à sombra durante uns tempos. Também na Nazaré há histórias a contar. O presidente das peixeiras começou a ser julgado numa sala pequena e mesmo assim quase vazia (“Ó glória de mandar! Ó vã cobiça”) por actos praticados durante os seus muitos mandatos.

Há muitos outros a aguardar julgamento, ou detenção, ou acusação. Todos por actos praticados enquanto autarcas eleitos, por isso com abuso da confiança que lhes foi conferida pelos eleitores.

Isto se fossem culpados, mas não são. São todos vítimas de odiosas, obscuras, infames, sinistras cabalas. Nenhum deles sabe o que é uma cabala, ou a sua relação com a “Tora”, mas todos berram pela sua própria inocência. A sua “obra”, claro, fala por eles. Assim como falam por eles milhares de empreiteiros, milhões de toneladas de betão, alumínio, ferro, tijolo, milhares e milhares de hectares de paisagem urbana degradada, esquálidos blocos de apartamentos húmidos e feios, cidades destruídas, todo o país transformado num triste e pálido e monótono subúrbio.

Por: António Ferreira

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