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“Guerras do Alecrim e Mangerona” no auditório municipal da Guarda

Cendrev apresenta a mais famosa peça de António José da Silva, “O Judeu”

A ironia refinada de António José da Silva, mais conhecido por “O Judeu” (1705-1739), regressa terça-feira à Guarda graças a uma das últimas produções do Cendrev – Centro Dramático de Évora. “Guerras do Alecrim e Mangerona” assenta arraiais no palco do auditório municipal por onde deambularão as personagens desta comédia cáustica e demolidora dos usos e costumes da vida setecentista.

Trata-se de um espectáculo elaborado a partir de uma dramaturgia que marcou o teatro português, entre Gil Vicente e Garrett, e que em 1737 enchia o Teatro do Bairro Alto, rivalizando com as óperas de influência italiana patrocinadas pela corte. Com uma linguagem eminentemente teatral em torno de histórias de amor e engano, num tempo em que, como agora, uns tinham posses, outros aparência e muita basófia e outros, nada tendo, faziam uso do seu expediente e sagacidade para que o enredo tivesse desfecho. Ana Meira, Susana Russo, Maria Marrafa, Rosário Gonzaga, Figueira Cid, Jorge Baião, Rui Nuno, Victor Zambujo e José Russo dão vida a esta sátira, com encenação de José Russo e dramaturgia de Mário Barradas. “Guerras do Alecrim e Mangerona” foi estreado em Évora em Novembro passado, tendo estado em cartaz três semanas para o público em geral. Seguiu-se depois uma série de espectáculos para jovens públicos a partir do 9º ano de escolaridade, numa acção preparada com as escolas do distrito de Évora, em que participaram mais de 1.500 alunos. Poeta e dramaturgo original, António José da Silva nasceu no Rio de Janeiro e foi executado num auto-de-fé em Lisboa, perante D. João V, dois anos depois de ter sido preso com a própria esposa, ambos acusados de actividades judaizantes pela Inquisição. Conhecido como comediógrafo de teatro de marionetas, as suas peças foram representadas no Teatro do Bairro Alto, onde conheceram grande sucesso popular devido ao humor cáustico das suas dramaturgias, mas também à observação e sátira mordaz de aspectos da sociedade da época e de certos grupos sociais e profissionais. É reconhecido como um dos renovadores do teatro português, que enriqueceu ao juntar as técnicas do melodrama italiano à comédia espanhola. Os bilhetes custam três euros, sujeitos aos habituais descontos.

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