Procuram melhores condições de vida e novas oportunidades. Movidos pelo sonho de uma vida melhor, centenas de imigrantes tentam na Covilhã uma outra sorte que não tiveram no seu país de origem. A maioria vem do Leste da Europa, mas também se encontram na Covilhã imigrantes indianos, espanhóis, chineses e de outras nacionalidades.
Os imigrantes do Leste, vindos essencialmente da Ucrânia, fazem-nos recordar os emigrantes portugueses que nas décadas de 50 e 60 rumaram a França ou à Alemanha em busca de uma vida melhor num país bem distante da sua cultura e tradição. A única diferença é que estes são mais qualificados, possuindo mesmo cursos superiores. Iouri Doubina, Stepan Varkholyak e Ihor Rybitskyy são ucranianos e vivem juntos há quase quatro anos. Eram amigos na Ucrânia e na Covilhã trabalham juntos há dois anos na construção civil. Na Ucrânia eram engenheiros civis ou mecânicos. Embora critiquem os baixos salários e o facto de não terem recebido ainda os subsídios de Natal e de férias, garantem que gostam de viver em Portugal porque aqui «é melhor» e há «muito trabalho». Todos casados e com filhos, aguardam apenas o visto de permanência para poderem trazer um dia a família. Não têm dificuldade em se expressar em português visto terem frequentado um curso de 58 horas para aprenderem a língua.
Stepan Varkholyak tem 47 anos e é o mais reivindicativo de todos. Sofreu há poucos meses um acidente de trabalho, mas garante que tem seguro e todos os descontos em dia. «O único problema é quando o patrão não paga», diz, referindo-se aos subsídios que alegadamente ainda não receberam. Em casa estão mais dois ucranianos e, ao que tudo indica, também ali moram – num espaço com um quarto, casa de banho e cozinha por uma renda mensal de 100 euros. «Não há dinheiro para arranjar outra», explica Iouri Doubina, aludindo ao elevado custo de vida existente e aos seus baixos salários. Mikael Rospopa, de 49 anos, e há quatro anos na Covilhã, que começa por dizer que não quer falar, acaba por garantir que «não há problemas», que o patrão «é bom» mas deixa escapar que os portugueses «ganham mais» que os ucranianos pelo mesmo trabalho. Já Oksana Ostapcuk recorda dias menos felizes quando chegou com o marido há pouco mais de três anos. Um amigo tinha-lhes arranjado trabalho na Covilhã, mas ao fim de três meses o patrão fugiu e não pagou aos 16 ucranianos e 16 portugueses o trabalho que tinham efectuado. «Era um ladrão», desabafa Oksana, então encarregue das «limpezas da casa e da cozinha».
Apesar de terem colocado o antigo patrão em tribunal, não conseguiu receber nada e teve dificuldades em arranjar novos trabalhos, uma vez que não tinha caixa nem a segurança social pagas, agravando-se ainda o facto de não saber a língua. Trabalhou depois num café/restaurante, só que o patrão emigrou para a Suíça e agora está há um ano a trabalhar no café mais frequentado pelos jovens estudantes da cidade. «Dou-me bem com todos», diz, orgulhando-se de ter aprendido a falar português através do contacto com as pessoas. «Andei na escola, mas não gostei», recorda, pois a professora não sabia ucraniano e ela não percebia o português. Oksana Ostapcuk tem 37 anos e na Ucrânia deixou três filhos de 14, 13 e 7 anos de idade com a irmã. Mostra a fotografia enquanto as lágrimas lhe invadem os olhos. Mas trazer os filhos para a Covilhã não está, por enquanto, nos horizontes. «Não tenho dinheiro para isso. A vida é muito cara aqui e não tenho oportunidade de juntar dinheiro», lamenta, afirmando que ganha apenas o salário mínimo enquanto que o seu marido, a começar agora as funções de motorista de pesados numa empresa de Trancoso, irá ganhar um pouco mais. Mas mesmo assim, todo o dinheiro que ganham vai para a renda da casa, as contas correntes e enviar o resto para a Ucrânia. Para além disso, todos os filhos estudam e trazê-los neste momento seria uma grande mudança. «Vim para Portugal para ganhar dinheiro. No fundo, é a mesma coisa quando vocês emigraram para a França ou para outro lugar», observa.