Michele Piolkovieh, 37 anos, é natural da Ucrânia, mais especificamente de Jiolade ole Ternopol. Veio para Portugal há cerca de 4 anos e directamente para a cidade da Guarda. Michele veio para Portugal por intermédio do seu actual patrão. A experiência no trabalho e o facto da maioria dos colegas serem portugueses possibilita que fale um português inteligível apesar de considerar que «é mais difícil compreender do que falar». No início, a língua foi uma barreira, mas o tempo e a força de vontade diluiu esse obstáculo: «Os primeiros tempos são sempre complicados», diz, porque, para além da língua, há também um choque de culturas. A sua esposa veio posteriormente, mas não teve tanta facilidade na adaptação e necessitou mesmo de frequentar um curso de português para conseguir arranjar um emprego. Os motivos que levam estes imigrantes a deixarem as suas famílias e os amigos é quase sempre o mesmo: «A procura de trabalho», adianta, mas o sorriso estampado na cara de Michele Piolkovieh evidencia que aqui tem bons motivos para estar contente. Na Ucrânia era motorista e em Portugal conseguiu um emprego similar, numa empresa de construção sediada na Guarda. Segundo Michele, tudo graças ao «bom patrão que tem», o que facilitou a sua rápida adaptação, por isso considera-se «um homem feliz». O passo dado ao vir para um país europeu foi «muito complicado», mas passados estes anos o saldo é positivo e, por enquanto, pensa em ficar. À Ucrânia, «por agora, só regresso de férias».
«O português é muito puro»
Navjot Singh é indiano e deixou o Punjahb há alguns anos para procurar melhores condições na Europa. Vive na Guarda há oito anos, mas passou pela Bélgica e França. Em 1991, o seu pai saiu da Índia, foi para França e depois, quando teve conhecimento do processo de legalização que estava a decorrer em Portugal, «veio para cá» e abriu um mini-mercado no Bonfim. Uma «estabilidade» que possibilitou as condições «propícias» para trazer toda a família para a Guarda. «As pessoas de cá, à semelhança do resto do país, são boa gente», afirma Navjot, cuja experiência noutros países europeus permite-lhe comparar o nível de hospitalidade e, nesse aspecto, não hesita em escolher o povo português. A única vez que sentiu algum género de discriminação aconteceu em 2001, durante os dias que sucederam à tragédia do 11 de Setembro nos Estados Unidos: «Algumas pessoas chamaram-me talibã, mas esse momento menos bom ultrapassou-se depressa», graceja Navjot. Actualmente possui na Guarda um restaurante de comida indiana, mas permanece a trabalhar no ramo da construção civil. Aprendeu a língua portuguesa com a experiência e o tempo, mas também «porque na Índia estudei bem», sublinha. No entanto, não terminou o curso do ensino superior senão «hoje podia ser professor de matemática», afiança. Há uns anos atrás ainda ponderava a hipótese de regressar ao seu país, mas hoje já pensa ficar a viver em Portugal. Navjot diz que já está verdadeiramente habituado ao país, porque o português «é muito puro». Na Índia «também há essa pureza nos homens, mas ninguém deixa falar a verdade», lamenta.