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Mudam-se os ventos, trocam-se as casacas

Quem conhece membros de partidos políticos sabe que as escolhas de cada um e a orientação ideológica de cada qual estão revestidas de tanta ou maior volatilidade que a das ações do Banco Espírito Santo (BES).

Indefetíveis apoiantes de António José Seguro voltam-se, agora, para António Costa com a mesma reverência que atraía os peixes aos sermões de Padre António Vieira. Aparentemente trata-se de um facto indissociável da máxima que advoga que em qualquer partido a maioria se arregimenta em torno do líder que detenha maior capacidade para conquistar o poder.

Nas mais das vezes os militantes dos partidos com vocação de poder têm a capacidade, à falta de outras, de percecionar aquele que mais facilmente os levará à conquista, exercício e manutenção do poder.

Este será um dos factos que explica a onda de apoio a António Costa. Mesmo as rémoras “seguristas” mais seguidistas se tornam indeléveis “costistas” de uma vida inteira. Note-se que foram os mesmos militantes que garantiram uma rotunda vitória a José Sócrates que, um punhado de meses depois, votaram massivamente em Seguro, que defendia uma rutura com o consulado do anterior secretário-geral. Nos mercados chama-se a isto comportamento de manada.

Todavia, outra velha regra da Ciência Política prende-se com a possibilidade de apoiar aquele que mais e melhores benefícios diretos possa garantir em determinado momento. Neste caso, essa pessoa não é (raras vezes o é) o candidato propriamente dito mas alguém que, possuindo cargo ou função intermédia, possibilite os designados tachos. É, portanto, esta noção ou, num português mais clarividente, esta manha, que leva diversos militantes que se diziam apoiantes de Seguro a passar para o lado de Costa, ou vice-versa.

Se um superior hierárquico – porque se trata de hierarquias subsidiárias – é apoiante de Seguro, todos os seus dependentes passam a apoiar o atual líder. Mas se porventura o superior se declara “costista”, então os membros do seu agregado caciqueiro, mesmo que outrora vincados “seguristas”, rapidamente se convertem à narrativa de que um líder não se pode conformar com uma “vitória por poucochinho” – leia-se António Costa.

A generalidade dos leitores perceberão a forma como se processa, na malha partidária, este tipo de fenómeno. Ainda assim, a título de exemplo, tal fenomenologia foi facilmente percetível na forma como o PS Guarda conduziu a escolha da direção executiva da CIM das Beiras e Serra da Estrela. Como a federação socialista conduziu o processo e como os militantes foram conduzidos ao longo do dito.

(outro) PS – O BES está bem, garantem. Ver-se-á. Mas o Grupo Espírito Santo (GES) não, e vem por aí abaixo. O Governo não quer sujar as mãos e deixa tudo para o Banco de Portugal. As consequências serão várias: Rácio da dívida pública deverá aumentar; Fim do consulado da família Espírito Santo; Falência de várias PME que geriram a tesouraria com a compra de dívida do GES; Milhares de novos desempregados serão, além de Ricardo Salgado, a face visível do, alegadamente, maior crime financeiro desde 1974.

Por: David Santiago

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