Entre as melhores regiões vitícolas do nosso país estão duas zonas que já na época romana eram importantes centros produtores de vinho. Referimo-nos ao Alentejo e ao Vale do Douro onde se têm encontrado importantes vestígios arqueológicos relacionados com a produção de vinho na época romana. Muito desse vinho era destinado à exportação para áreas do império romano. O vinho terá proporcionado a acumulação de grandes fortunas pelos proprietários das vinhas a julgar pelos vestígios das magníficas habitações que construíram.
Comecemos pelo Alentejo. Além da villa romana da Torre de Palma, onde se encontraram magníficos mosaicos que representavam divindades clássicas, há outra habitação excepcional quer pela grande dimensão quer pela excepcional qualidade dos materiais empregues na decoração da casa. Trata-se da villa de São Cucufate, na Vidigueira, uma habitação construída no século I depois de Cristo no centro de uma extensa propriedade dedicada à produção de vinho, certamente de qualidade.
Esta habitação romana seguiu o mesmo plano arquitectónico das grandes casas senhoriais romanas construídas por todo o império romano, com os jardins interiores na pars urbana, ou seja, no edifício nobre onde residia o proprietário. Ao lado, mas a alguma distância, encontrava-se a pars rustica, a casa destinada a albergar os serviçais ou os escravos – que podiam ser centenas. Havia, ainda, a pars fructuaria, ou seja, o edifício destinado ao armazenamento do vinho, dos cereais e das alfaias agrícolas. Era neste edifício ou armazém que, em geral se encontrava o lagar de azeite e de vinho.
Por toda a Lusitânia romana, de norte a sul, foram construídas residências colossais, magnificamente decoradas com mosaicos, que seguiriam o mesmo modelo construtivo, embora com algumas adaptações determinadas pela capacidade económica dos seus proprietários. Mas a maioria tinha uma característica comum: a de serem grandes explorações agrícolas vocacionadas para a produção de vinho e azeite, tendo em conta a quantidade de dolia – as grandes talhas de cerâmica – recuperada nestes sítios arqueológicos.
Também na região do Douro, mais precisamente no vale do seu afluente, o rio Tua, encontraram-se os vestígios de uma grande habitação na Quinta da Ribeira localizada em Tralhariz (Carrazeda de Ansiães). Decorava a habitação do proprietário alguns mosaicos que foram datados pelos especialistas do século IV depois de Cristo.
O sítio arqueológico da Fonte do Milho, localizado em Canelas do Douro (Vila Real), é outro dos sítios romanos emblemáticos das encostas do Douro e da sua exploração económica. Esta grande e luxuosa casa senhorial romana estava defendida por grandes muros que, simultaneamente, criavam plataformas artificiais imprescindíveis à construção. Nesta grandiosa exploração agrícola do Douro encontraram-se os restos de prensa de lagares de azeite ou vinho, grandes talhas de armazenamento de azeite e de vinho com inscrições pintadas e um magnífico tanque forrado com belos mosaicos que representava cenas marinhas (maioritariamente peixes). Os proprietários da villa romana entricheiraram-se no cimo de um cabeço à volta do qual exploravam grandes extensões de vinha e de oliveira. A extensa propriedade da Fonte do Milho seria quase auto-suficiente e, ao mesmo tempo, produzia vinho e azeite o mercado regional ou mesmo para o mercado peninsular. O rio Douro era a “estrada” perfeita para o escoamento destes produtos tão apreciados pelos romanos.
Por: Manuel Sabino Perestrelo