António Sáez Delgado foi o vencedor do prémio Eduardo Lourenço do Centro de Estudos Ibéricos.
Quem esteve na passada quinta-feira na Biblioteca Municipal, batizada com o nome de Eduardo Lourenço, percebeu, que o galardoado deste ano, é, indiscutivelmente, um raiano que colabora e tenta aproximar os dois países peninsulares, um verdadeiro investigador que cruza fronteiras, derrubando velhos fantasmas, abraçando a profissão de professor na Universidade de Évora, numa vocação e dedicação, por inteiro, à cultura ibérica. É talvez por isso que assume toda a História, dizendo-nos que a partir de agora tem um novo compromisso e desafio para o seu trabalho futuro.
Sáez Delgado fala-nos de Sancho Pança, não como projeto político numa eventual governação da Barataria, mas sim como género literário de Cervantes onde D. Quixote, idealista e sonhador, apresenta o bruto e anafado pajem, realista, o tal que declara todas as ideias e ideais verdadeiramente utópicos.
Delgado, autor de escritos como “En otra Pátria” descreve o processo geo-histórico, (re)criando a palavra e o conceito “Pátria”. Não aquele que Guerra Junqueiro fala na forma de fazer política e conquistar o poder, ou mesmo no sentimento que Leal Freire coloca em “Pátria Matria, Terra Patrum”, mas sim no conhecimento da História dos dois países ibéricos, num “todo por la pátria” ou num “Deus, Pátria, Autoridade”, neste “país de pernas para o ar” de Manuel António Pina e nesta pátria, não tão matria quanto isso, de Torga, Sophia, Cela ou Garcia Lorca, encaixando tudo isto na teoria camoniana de “esta é a ditosa pátria minha amada”.
Exemplo disso é sair de casa, em Badajoz, às oito da manhã e chegar a Évora às oito menos cinco, esquecendo completamente o fuso horário, colocando assim, em todas as palavras, a força e a alma que os comparatistas sabem tão bem ter. (Sei do que falo. A minha filha é comparatista).
A pátria, enquanto conceito sentimental, é descrita de forma tão nobre e tão diferente que deixou estupefactos todos aqueles que estiveram na biblioteca, mesmo percebendo e assumindo, a (ainda) fronteira geográfica e as barreiras histórias (umas verdadeiras e algumas mais verdadeiras que outras), que aos poucos foram colocadas na História dos dois países ibéricos.
Está de parabéns a Câmara Municipal da Guarda, o Centro de Estudos Ibéricos e o Júri que soube sabiamente distinguir António Sáez Delgado.
Por: Albino Bárbara