Falar de cinema não é fácil e muito menos consensual. O que poderão, então, ambicionar jovens que queiram falar sobre esta arte… E partilhar a sua visão nas redes sociais – esse meio onde as coisas tão rapidamente se semeiam mas pouca vezes perduram?
Hoje há 23 colaboradores na “Última Sessão” (fb.com/ultimasessao.cinema), todos eles com menos de 30 anos, espalhados pelo país mas também pelo mundo (Espanha, Inglaterra e Brasil). Muitos vivem em meios mais pequenos, outros estão habituados ao ritmo frenético de grandes cidades: em comum temos o gosto pelo cinema e por falar dele na nossa língua, em português. Desde cedo percebemos que não temos as mesmas oportunidades: na Guarda ou em Tomar (des)esperamos por filmes que muitas vezes nem chegam, mas nas principais cidades há tantos filmes que a dificuldade é escolher.
Na sala virtual onde nos encontramos, falamos de cinema, de realidades e de ambições; partilhamos a forma como vemos o mundo e procuramos marcar a diferença a cada texto: discutimos o filme, o trailer, o poster ou a banda sonora. Trocamos visões heterogéneas e experiências de vida “desnudadas” aos olhos de um cinema global, também um convite a extrapolarmos os problemas com que lidamos no quotidiano. Porque o cinema dá voz à política, aos locais, às filosofias, à natureza e a tantos outros elementos familiares nas nossas vidas. Porque somos jovens e acreditamos que a cultura merece um outro lugar na vida das pessoas, que os filmes e as grandes obras têm de vencer sempre o tempo. Porque falar de cinema é ficar mais rico.
Não se procura o consenso. Do cinema americano parte-se para o português, o asiático, o francês ou o alemão. Do “mainstream” parte-se para o cinema independente, para o cinema de autor, para a redescoberta da história e para a evolução da arte.
Numa altura em que vivemos rodeados de comentadores de tudo e mais alguma coisa, também a cultura deve reclamar o tempo e o espaço que merece, nomeadamente entre os mais jovens. Serão eles (nós) o futuro, responsáveis por perpetuar os valores mais importantes, mas igualmente as riquezas que foram conseguidas e construídas ao longo do tempo. O cinema é uma forma de o passado falar connosco, de o futuro nos fitar e nos questionar, de as distâncias e de a imaginação se encurtarem ao comando do sonho. E como é bom sonhar!
Por: Sara Quelhas*
*Mestranda em Estudos Fílmicos e da Imagem (Estudos Artísticos) na Universidade de Coimbra