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As minhas rápidas lembranças do 10 de junho de 1977

José Domingos

Em 09 de Junho de 1977 o tempo era chuvoso. A Guarda vivia a azáfama das primeiras celebrações do “10 de Junho – Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas” presididas pelo General Ramalho Eanes, Presidente da República.

Curioso ou coincidente, recordo que a chuva parou quando Ramalho Eanes chegou de helicóptero ao Estádio Municipal da Guarda e recomeçou quando partiu de regresso a Lisboa.

Era Governador Civil da Guarda o Dr. Alberto Marques Antunes (PS), advogado natural de Aldeia de Santo António (Sabugal). Integrei, a convite de Abílio Curto, presidente da Câmara Municipal, a Comissão Organizadora local que envolveu várias personalidades da vida social, cultural e política da Guarda. O Parque Municipal foi o local escolhido para as festividades enquanto as oficiais tomaram conta do centro da cidade. Montaram-se palcos vários, um deles no Largo General Humberto Delgado, onde atuou uma orquestra militar.

À Comissão juntaram-se como colaboradores principais funcionários dos organismos públicos da Guarda, do Regimento de Infantaria nº12 aquartelado na Guarda, autarcas e personalidades guardenses. Recordo entre eles o próprio Abílio Curto, Artur Pina, Júlio dos Santos Rodrigues Espigado, Carlos Granjo, Mário Lucas, os artistas plásticos Luis Rebelo e Alberto Carreto, Emílio Aragonês, Antunes Ferreira, Joana Paula, António Pinheiro, Luis Coutinho, entre outros da Radio Altitude, António Santos e Clavier Bernando Alves (da ex-Emissora Nacional), Dr. João Gomes, Dr. Lopes Craveiro, o comentarista Fernando Bento, o industrial José Rabaça e tantos outros… O Secretariado e Gabinete de Apoio funcionava no ex-Colégio do Sagrado Coração de Maria onde nasceu muito do material alusivo à data e onde o pintor Júlio Pomar se empenhou a par dos artistas da cidade.

A sessão solene decorreu no salão do Liceu Nacional da Guarda onde Jorge de Sena foi o orador principal perante uma sala repleta de personalidades, entre os quais o primeiro- ministro Mário Soares, membro do Governo, chefias militares, diplomatas, autarcas, escritores e pensadores, músicos, artistas plásticos e povo.

Momento que jamais esquecerei foi o passeio que, à noite, dei pela cidade, eu jovem ainda, na companhia de Vergílio Ferreira pelas bandas da Rua da Torre e me recordou suas andanças pela cidade enquanto jovem e, mais tarde, uma tertúlia/encontro no Hotel Turismo (ah! como faz falta!) em que participaram Vergílio Ferreira, Jorge de Sena, Natália Correia, Dórdio Guimarães, Júlio Pomar, Abílio Curto e José Rabaça.

E como choveu depois da partida de Eanes! A aflição de Igrejas Caeiro, da ex-Emissora Nacional depois RDP, responsável pelo espetáculo em que atuou Marie Miriam – com raízes em Vila Fernando (Guarda), emigrada em França e vencedora nesse ano do Festival da Canção da Eurovisão –, era tal que lembrou bem as clamações e reclamações perante um tolde montado no palco que ameaçava ceder sob o peso da chuva acumulada.

Porém, marcante foi a visita guiada que fiz ao Centro Histórico da Guarda para o General Ramalho Eanes e da qual nasceu uma amizade e respeito pelo então Presidente da República que quis celebrar pela primeira vez este dia na minha terra, a Guarda.

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