A realidade que Cavaco Silva vai encontrar na cidade mais alta, na terça-feira, é bem diferente daquela que Ramalho Eanes conheceu há 37 anos. A mudança também está nos números.
Havia mais jovens e mais gente nas aldeias quando Ramalho Eanes, então Presidente da República, se deslocou à Guarda no dia 10 de junho de 1977, mas também mais iliteracia e menos imigrantes, se compararmos com os dados mais recentes. O concelho é o mesmo, mas as mudanças que pautaram as últimas três décadas fazem lembrar um “outro país”.
As diferenças começam logo em termos populacionais: não porque o número geral tenha variado significativamente, mas sobretudo devido à tendência dos habitantes se mudarem das aldeias para a cidade e à consolidação daquela que era, em 2011, a segunda maior freguesia do concelho (São Miguel da Guarda). Entre as 52 freguesias rurais, só quatro registaram aumentos na população e só uma delas na casa das centenas, atendendo ao Recenseamento Geral da População de 1981 e aos Censos 2011,ambos do Instituto Nacional de Estatística (INE). A localidade cuja população mais cresceu foi Arrifana, que em 2011 tinha mais 129 moradores do que em 1977, sendo que Aldeia do Bispo (mais 51), Porto da Carne (mais 22) e Vila Cortês do Mondego (mais 13) também subiram.
Em sentido oposto, entre 1981 e 2011, sete freguesias rurais perderam mais de metade da sua população (Avelãs de Ambom, Marmeleiro, Monte Margarida, Pousada, Rochoso, Seixo Amarelo e Vila Soeiro), mas a realidade das freguesias urbanas também mudou. Às duas existentes em 1981 – Sé e São Vicente – juntou-se São Miguel da Guarda (criada em 1989), que, segundo os Censos 2011, era a segunda com mais habitantes. Uma realidade bem diferente daquela que Ramalho Eanes terá encontrado há mais de três décadas, quando a Sé era a freguesia mais populosa, à frente de S. Vicente, que em 2011 se tornou a maior freguesia da cidade com mais 3.389 moradores que em 1981. Com um total de 11.679 residentes, S. Vicente ultrapassava mesmo S. Miguel (7.928 pessoas) e Sé (6.958 pessoas).
Concelho “perdeu” 6.538 jovens
A Guarda jovem que Eanes encontrou, em 1977, é hoje uma cidade envelhecida. Comparando mais uma vez os dados de 1981 – os mais próximos relativamente a esse ano – com os dos Censos 2011, verifica-se que o aumento populacional (mais 2.181 habitantes) acontece na população adulta e não nos jovens, que sofreram uma quebra acentuada. Contas feitas, o concelho guardense perdeu 6.538 jovens (até aos 24 anos), o que representa um decréscimo na ordem dos 40 por cento.
Por outro lado, a população idosa mais do que duplicou: em 30 anos, o concelho “ganhou” 2.574 habitantes com 75 ou mais anos de idade, o que corresponde a um aumento de quase 125 por cento. Já a população com mais de 25 anos “ganhou” 7.727 pessoas, o que, em “confronto” com a perda de jovens, leva a que o número global de residentes no concelho tenha um saldo positivo. Noutras contas, também a taxa de analfabetismo é bem diferente daquela que se verificava em 1981, quatro anos depois da visita do então Presidente da República Ramalho Eanes. Nessa altura, quase 47 mil habitantes do distrito da Guarda (com mais de 10 anos) não sabiam ler nem escrever, num universo de 205.631 pessoas (176.487 das quais com mais de 10 anos), o que equivale a uma taxa de analfabetismo de perto de 37 por cento.
Atendendo aos Censos 2011, que disponibilizam esta informação, todos os concelhos se encontram abaixo dos 15 por cento de taxa de analfabetismo, sendo os casos mais preocupantes Aguiar da Beira (14,95 por cento) e Sabugal (14,48 por cento). Por sua vez, a Guarda fica-se pelos 5,48 por cento, seguindo-se Seia (com 7,25 por cento), Manteigas (8,84 por cento) e Almeida (8,94 por cento).
População imigrante aumentou quase 700 por cento
O distrito era, em 2012, segundo dados publicados pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), aquele que tinha menos imigrantes a nível nacional, encontrando-se em quebra desde 2010, com 1.814. No entanto, em comparação com 1981, registou-se um aumento na ordem dos 674 por cento.
Há três décadas a Guarda tinha 269 imigrantes, na sua maioria jovens entre os 15 e os 19 anos (61 pessoas), com Angola a ser o país mais representado (85 pessoas). Em 2012 havia mais 1.545 cidadãos estrangeiros no distrito, sendo que, tendo em conta o “Diagnóstico da População Imigrante – Desafios e Potencialidades para o Desenvolvimento Local” da Guarda, que teve como coordenador científico José Pires Manso e que remonta ao início de 2010, os imigrantes residentes eram maioritariamente oriundos da Ucrânia e do Brasil.
Por sua vez, também há mais desemprego no distrito, que tinha em abril mais 2.903 desempregados do que em 1981, o que equivale a um aumento de quase 62 por cento. Há 33 anos havia 4.698 pessoas sem emprego na Guarda, sendo que essas ascendem atualmente aos 7.601.