A Guarda e área envolvente tem assistido lenta, prolongada e paulatinamente a uma perda de influência na região. É necessário questionar as causas próximas e longínquas desta evidência. Algumas delas, no entanto, são claras: a pequena política, nacional e local; a falta de coesão e de estratégia regional; e, sobretudo, a falta de ambição, pessoal e coletiva. Urge pois tomar consciência desta realidade, mudar atitudes e procedimentos, consciencializar os cidadãos e ganhar ambição.
Três exemplos recentes evidenciam pouca destreza, nenhuma ambição e pouca astúcia. Passaram-se em sectores chave como a saúde, vias de comunicação e justiça, atravessando vários ciclos políticos. O processo e o resultado, porém, foi sempre o mesmo: subalternizar a Guarda e as suas gentes.
Começando pela saúde. Em tempos distintos, o hospital da Guarda e as unidades de saúde do distrito foram sangrados de valências e de funções para valorizarem duas unidades próximas: o hospital da Cova da Beira, na Covilhã; e o hospital de São Teotónio, em Viseu.
Para os utentes não adveio nenhum proveito, apenas prejuízo. Senão vejamos: em 1998, aquando da criação da Faculdade de Medicina na Universidade da Beira Interior, e uma vez que eram necessários utentes, corpo docente e serviços, houve necessidade de recorrer aos hospitais e demais unidades vizinhas, onde se incluíam os da Guarda. De seguida, para que o Hospital de São Teotónio passasse a hospital central, foi utilizada a mesma técnica legislativa. Resultado disto: hoje o hospital de referência é Coimbra!
Passando às vias de comunicação. Se atentarmos na A23, à Guarda é dado um estatuto de menoridade, com ligeiríssimas alteração recentes que em nada alteram a situação. A sinalética recusa um tratamento digno e correto. Pergunto se a auto-estrada é Torres Novas-Guarda?, porque a mesma só aparece sinalizada quase no final. Porque não é sinalizada a Guarda na saída da A1, tal como o Porto e Lisboa o são no inicio da A23? Porque é que só agora ao nó Guarda Sul foi dada alguma dignidade? A sinalética inicial mais parecia de um qualquer lugarejo, ao invés do que acontecia com os vizinhos a sul.
Continuando com a justiça, e recorrendo à recente lei de organização do sistema judiciário, a Guarda teve uma evolução negativa face aos vizinhos. Além dos tribunais que encerraram, ficou tudo como estava, ou pior: a sede de comarca, ou outra qualquer secção em concelhos do distrito, não ganhou nenhuma competência especializada, ao invés do que aconteceu com Viseu, Lamego, Castelo Branco e Covilhã.
É há uma lacuna grave, para não ser exaustivo: não existe nenhuma secção de competência especializada em Família em todo o distrito. Será que as famílias da Guarda e do seu distrito valem menos do que as dos distritos vizinhos?
As coisas são o que são. Combater estas desigualdades, mobilizando e coordenando vontades, é um imperativo da Guarda e das suas gentes.
Por: Acácio Pereira
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