«Não podemos falar em cooperação entre os municípios da Cova da Beira às segundas, quartas e sextas e dizer e praticar o contrário às terças, quintas e sábados». O presidente da Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela e também da Câmara da Covilhã não poupou nas críticas ao colega do Fundão por declarações proferidas na última Assembleia Municipal.
Nessa reunião, Paulo Fernandes defendeu que, «devido à conjuntura de crise, o investimento em infraestruturas aeroportuárias deve incidir na capacitação do aeródromo de Castelo Branco em vez da construção do novo aeroporto regional», confessando ainda «ter dúvidas que a solução dos túneis da Serra da Estrela para a ligação a Coimbra seja a melhor forma de concretizar a construção do IC6». O presidente da CIM não gostou do que ouviu e, no final da reunião privada do executivo da última sexta-feira, leu um comunicado onde lamenta «profundamente as infelizes declarações» do presidente da Câmara do Fundão sobre aquelas matérias, assegurando que essas afirmações «não caíram em saco roto e têm que ter consequências». Vítor Pereira considera que Paulo Fernandes revelou «uma flagrante e clamorosa falta de ambição», bem como «um pensamento curto, uma visão redutora, provinciana, egoísta e tacanha».
O autarca critica o que considera ser um «inusitado conformismo e um baixar de braços relativamente a obras tão importantes para a região como são o IC 6, que serve diretamente o Fundão, os túneis, que servem a mobilidade dos concelhos de ambos os lados da Serra da Estrela» e a «infraestrutura aeroportuária que favorece igualmente o concelho do Fundão, dado que a sua utilização para voo de cargas e de mercadorias permite o escoamento de produtos do concelho, bem como o seu aproveitamento para fins turísticos e voo recreativo». O autarca covilhanense recordou que as três infraestruturas são «antigas aspirações das gentes e autarcas da nossa região», pelo que as declarações de Paulo Fernandes são «uma grave quebra de solidariedade e uma imperdoável deslealdade» e que «esta falta de cooperação e de entreajuda extravasa as fronteiras da Cova da Beira e fere gravemente o espírito da própria CIM». «Um autarca com uma visão egoísta, desleal e redutora como esta não está à altura da presidência da CIM das Beiras e da Serra da Estrela», criticou Vítor Pereira, denunciando ainda que «este comportamento incorreto está a causar também um profundo mal estar em inúmeros autarcas da CIM e de comunidades vizinhas».
O autarca lamentou que o seu colega do Fundão tenha «quebrado as mais elementares regras de boa vizinhança» e garantiu que não vai permitir que «atitudes destas lesem os interesses da Covilhã, da Cova da Beira e da CIM das Beiras e Serra da Estrela, sendo que esta postura terá, obviamente, consequências», escusando-se a indicar quais. Confrontado com a posição de Vítor Pereira, Paulo Fernandes estranhou as declarações do covilhanense que enquadra «numa falha muito grande de informação» e preferiu não dar relevância ao assunto enquanto não reunir com o seu homólogo, considerando «absolutamente absurda» a ideia de poder estar em causa a rotatividade da presidência da CIM. Os vereadores da oposição na Câmara da Covilhã – Mónica Ramôa (CDU), Joaquim Matias (PSD) e Pedro Farromba (MAC) – emitiram entretanto um comunicado conjunto onde esperam que «este infeliz episódio não venha pôr em causa a tão necessária cooperação institucional fundamental para o desenvolvimento da região». Também a comissão política do PSD do Fundão considerou, em comunicado, que Vítor Pereira teve uma «atitude arruaceira» e reveladora de «dor de cotovelo», tentando «mascarar a dificuldade que aquela autarquia tem hoje em explicar aos covilhanenses a perda de centenas de postos de trabalho pela deslocalização de empresas para outros concelhos, designadamente para o Fundão».
Ricardo Cordeiro
