O presidente do conselho de administração da CP aproveitou o Carnaval para viajar de comboio até à Guarda. Terá viajado mesmo junto do maquinista, para melhor perceber o estado da Linha da Beira Alta e os seus constrangimentos. Na Guarda, Manuel Queiró reuniu-se com os presidentes das câmaras da Guarda e da Covilhã, a quem pediu boleia para ir apanhar o comboio à Covilhã, pois a Linha da Beira Baixa foi “desativada” e abandonada há cinco anos, e assim continuar o seu périplo ferroviário até Lisboa. Pode parecer uma brincadeira de Carnaval, mas não, foi uma oportunidade para o responsável máximo da CP observar e discutir com os autarcas da Guarda e Covilhã sobre a obtusa decisão de “desistir” do eixo ferroviário Guarda-Covilhã, depois de 10 milhões de euros gastos em “requalificação”, e perspetivar o futuro do transporte ferroviário na região.
Para a CP, segundo Manuel Queiró, fechar «o anel» é essencial para a viabilização ferroviária. Ou seja, as linhas da Beira Alta e da Beira Baixa podem complementar-se, não apenas em termos de transporte de passageiros, mas essencialmente na capacidade de resposta e dinâmicas de alternativa no transporte de mercadorias. Como referiu Manuel Queiró, «teria conveniência em ver trânsitos com menor tempo de percurso, com menor distância de percurso e, portanto, com custos mais comportáveis para as empresas exportadoras, aumentando assim a competitividade e eficiência da nossa economia». Enfim… este pode ser o primeiro passo para o regresso dos comboios ao troço entre a Guarda e a Covilhã, mas ainda vão faltar alguns anos.
O relatório do Grupo de Trabalho para as Infraestruturas de Elevado Valor Acrescentado apresenta o diagnóstico e identifica os constrangimentos nos sectores aeroportuário, marítimo-portuário, rodoviário e ferroviário – com o objetivo de potencializar a competitividade da economia; defende a metodologia e a priorização de projetos e investimentos a implementar; e elenca os projetos e investimentos cujo valor acrescentado é de interesse nacional.
Igualmente relevante (aliás, mais relevante), o Grupo de Trabalho elenca o corredor ferroviário Aveiro-Vilar Formoso-Irun, como corredor estratégico aglutinador de projetos e de carácter prioritário a nível nacional. Este corredor ferroviário, hierarquizado com uma priorização consolidada como a décima infraestrutura de maior valor acrescentado a nível nacional, visa uma nova dimensão de intermodalidade e a melhoria na ligação a portos, plataformas logísticas e parques industriais – com necessidade de intervenção para a eliminação de constrangimentos por forma a permitir a circulação de comboios de mercadorias com 750 metros de comprimento e dotando-a de bi-bitola, para a interoperabilidade ibérica e europeia, nomeadamente. Assim, a PLIE da Guarda volta a poder contar no mapa do desenvolvimento e da logística. Com um problema óbvio: a sua localização errada num contexto ferroviário. Mas esse foi um dos muitos erros de planificação na Guarda, em relação ao qual já nada pode ser feito, a não ser constatar da falta de visão e de competência de quem governou a cidade durante anos.
Luis Baptista-Martins