Primeiro, a questão do inverno. O climático acabou já, cerca de um mês antes do equinócio da primavera. É assim todos os anos e vai ser também assim este ano. Aparecem nos jardins as primeiras flores e surgem rebentos por todos os lados. Mas há anomalias. As marés vivas continuam, cada vez mais violentas, comendo em toda a costa atlântica a areia das praias. Em Moledo do Minho, em Ovar, na Costa da Caparica, no Porto, na Ericeira, a fúria das ondas destrói tudo à sua frente. Não houve muito frio, mas o mar e o vento viram-se muito mais que de costume. Amanhã, quarta-feira, teremos sol. Depois haverá muito e, a seguir, demasiado. Nada que não nos tenha sido avisado e que continuaremos a ignorar até que seja tarde de mais.
Na política interna não se discutem os estragos que o inverno trouxe às praias, suposto chamariz do turismo, principal indústria nacional. Discute-se a saída, limpa ou não, do programa de assistência financeira que nos livrou da bancarrota. O PS ainda não decidiu o que lhe interessa, do ponto de vista da táctica política. Os partidos do governo também não. Queriam um programa cautelar, em que tivessem o respaldo da UE para o regresso ao endividamento normal e contratual, junto dos mercados financeiros. Não o vão ter, até porque o resto da Europa quer é ver-se livre de nós. Também não sabem como podem baixar de novo a dívida para apenas 60% do PIB. Há duas maneiras: ou pagar a dívida, ou aumentar o PIB. Não têm nem ideia de como conseguir qualquer delas.
Na Ucrânia caiu na rua mais um regime corrupto. O que qualquer um com um pouco de bom senso esperaria é que todos apoiassem um rápido processo eleitoral, que legitimasse um novo parlamento e elegesse um novo presidente. Putin decide anexar a Crimeia, embora reconhecendo que o regime ucraniano tinha perdido o apoio popular. A China apoia a Rússia nesta jogada. A esquerda portuguesa também, implicitamente, com o argumento de que os que derrubaram o regime vigente na Ucrânia eram fascistas e nazis. (O que são os russos?) Concedo que há pouca informação sobre o assunto, mas gostaria de ver o caso tratado e discutido com elementos mais concretos e verificáveis, atendendo a que houve guerras mundiais a começar por menos e que deveríamos estar todos a preocupar-nos com outras coisas, como por exemplo as alterações climáticas ou o endividamento excessivo dos países do sul.
Por: António Ferreira