Há uma semana foi possível “visualizar” a última Assembleia Municipal de Trancoso (a primeira com o novo executivo) através de uma transmissão via internet. É uma boa iniciativa porque permite um melhor escrutínio daquilo que os nossos representantes vão, à vez, defendendo.
Infelizmente de positivo fica apenas a ideia. Tudo o resto foi mau. Tanto discursos, como intervenções, muito ficaram a dever à clareza. Foram redondos, vazios e repletos de tecnicidade. Mais do que a uma troca de ideias assistiu-se a um mini-julgamento, onde só uma extraordinária ausência de ideias explica um debate inundado de tecnicidades que em nada ajudam o cidadão médio (onde me incluo) a realizar aquilo que de facto está em causa. Resulta a conclusão da impreparação e demagogia da maioria dos intervenientes. Olhando para os deputados do PSD, uma análise dificilmente pode conter sentimentos muito distantes do dó e da desesperança.
Para além das trocas discursivas de verborreia jurídica, surgiram as habituais trocas de acusações, como imitação daquilo que ao nível nacional é feito por PS e PSD. Houve ainda tempo para discursos que apesar de inspirados em Padre António Vieira, derivam inapelavelmente para a tragicomédia. Por fim, menção para a emoção demonstrada por um dos únicos que pratica o querer fazer. No meio de toda esta salganhada, o próprio presidente da Assembleia Municipal teve de tomar o papel de deputado municipal, que o é, para também ele se defender, e ao seu partido, de algumas das acusações. Necessidade decorrente da constatação da incapacidade dos seus colegas de partido.
Por fim, a demagogia. Aqui o presidente da câmara, Amílcar Salvador, seguiu a toada de tantos anos de campanha, oficial e oficiosa, em que o realismo nunca chegou a ter papel atribuído. Insistiu que a opção por dois elementos de assessoria política se justifica pela necessidade de poupar e também pelo seu próprio desconhecimento. Pois bem, quanto ao desconhecimento, não teria sido possível ao professor Amílcar ter-se actualizado de forma mais eficiente ao longo de todos estes anos de vereação? Ao invés de deixar todo esse trabalho para o agora vereador Eduardo Pinto? E que conhecimento, do modus operandi camarário, poderão acrescentar dois assessores sem qualquer tipo de experiência executiva nesta ou noutras câmaras? Se necessita de assessoria, não a poderia solicitar a alguém dos quadros? Ou ao próprio Eduardo Pinto? Ficam as dúvidas.
Quanto à poupança, Salvador garantiu que os assessores, que “trabalham das 8 às 19h”, vão “seguramente trazer poupança no próximo ano”. Apesar da repetição deste argumento de autoridade bacoca não esclareceu, em momento algum, como se irá efectivar tal poupança. Se na redução de despesas em rúbricas externas ou na multiplicação dos pães!
Por fim, o edil trancosence congratula-se por em 2014 o plano municipal assegurar uma redução de funcionários. Paradoxal. Sem dois assessores, que nem sequer pertenciam aos quadros, seriam ainda menos. É pena que a eficiência, de uma câmara prostrada ao interior desertificado e sem emprego, passe pela redução de trabalhadores em detrimento da boa e eficiente gestão. Isto é o vazio.
Por: David Santiago