«Felizmente que não tenho estes problemas na minha zona». O desabafo é de Fernando Ruas, presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses e da Câmara de Viseu, e sintetiza a confusão que reina em torno da discussão da criação da Comunidade Urbana na Beira Interior.
Miguel Relvas, secretário de Estado da Administração Local, Fernando Ruas, Presidente da ANMP e da Câmara de Viseu, Ana Manso, deputada pelo PSD, Pina Moura, deputado pelo PS, Maria do Carmo Borges, presidente da Câmara da Guarda, Carlos Pinto, Presidente da Câmara da Covilhã, e Pedro Guedes de Carvalho, professor na UBI, foram os oradores convidados pelo jornal “O Interior”, a Rádio Altitude e a Rádio Covilhã para o debate do passado dia 6, no Hotel de Turismo da Guarda. A discussão sobre a criação das comunidades urbanas atraiu algumas centenas de pessoas, que quiseram compreender a reforma proposta por Miguel Relvas. O secretário de Estado procurou apresentar os argumentos e deixou um recado: «As regiões mais ricas já se decidiram».
Pedro Guedes de Carvalho optou por fazer um comentário crítico ao processo e perguntou «onde é que é a centralidade disto», acrescentando que a «lei é insuficiente, porque diz que todas as transferências podem ser feitas, mas como e o quê?». De resto, o académico, ao mostrar a sua desconfiança em relação às comunidades, acabou por ser quem mais aplausos tirou à assistência. O presidente da Câmara de Viseu, Fernando Ruas, esclareceu que «não temos vontade de aliciar, mas de formar uma grande área metropolitana», respondendo às criticas de contribuir para a desintegração do distrito da Guarda.
Maria do Carmo Borges afirmou, por sua vez, não se poder dizer «que o grande e o máximo são o melhor», contrariando assim aqueles que defendem a dimensão como determinante numa comunidade. A presidente da Câmara da Guarda comentou que «a lógica do distrito deve estar subjacente» na criação da comunidade em que a Guarda se inserir, acrescentando que no território há «especificidades que distinguem os dois distritos». Bem diferente é a posição do presidente da Câmara da Covilhã. Para Carlos Pinto, «não estamos a fazer uma reforma para promover uma marca ou um território mas para nos aglomerarmos e termos mais poder». A deputada do PSD, Ana Manso, realizou, como alguém comentaria no final, três cambalhotas, durante a sua intervenção. Ao defender uma comunidade com «maior abrangência para ter mais massa crítica», não especificou que fronteira defende para a comunidade. Depois defendeu a manutenção do distrito, de seguida a união com a Cova da Beira, criando a Beira Interior Norte e depois a Beira Interior (os dois distritos), que, caso não perdessem nenhum concelho, teriam população para formar uma GAM. Ninguém compreendeu muito bem o que defendia, mas a sua conclusão é que tudo estaria bem se «houvesse liderança».
A decisão sobre a criação das comunidades vai caber às assembleias municipais que, até 31 de Março, terão de deliberar sobre a opção de cada município. Os presidentes de Câmara da região marcaram presença. Assim, foi possível ouvir a opinião de alguns em relação ao processo em curso. Álvaro Amaro, autarca de Gouveia, município que prefere a Grande Área Metropolitana de Viseu, não quis excluir nenhuma possibilidade e explicou que «Gouveia pertence à ADRUSE, ao Planalto Beirão, à “Aguas do Zêzere e Côa” e ao distrito da Guarda», acrescentando que «os distritos não estão em causa, se assim fosse eu estaria contra o processo».
Domingos Torrão, presidente da Câmara de Penamacor, esclareceu que «estaremos onde estiver a Cova da Beira», ou seja, que acompanhará a Covilhã. Ao debate assistiram muitos outros autarcas. De entre o público foram muitas as pessoas que pediram a palavra para emitir a sua opinião ou deixarem alguma pergunta à mesa. Rogério Nabais fez questão de recordar Carlos Pinto de que em 1998, o autarca da Covilhã esteve contra a regionalização e defende agora o território da então Beira Interior. Lemos do Santos pôs ênfase na necessidade de a comunidade ser integradora em termos de Serra da Estrela. Para espanto geral, o vereador da Câmara da Guarda, Esmeraldo Carvalhinho, corrigiu Maria do Carmo Borges, afirmando que a posição apresentada pela autarca não coincidia com o decidido anteriormente na Câmara. José Carlos Alexandre, pragmático, questionou o secretário de Estado sobre «a retaguarda técnica» que as comunidades iriam necessitar. Leopoldo Mesquita dissertou sobre a regionalização encapotada que está a ser feita.
Luís Baptista-Martins