A arte de trabalhar o ferro começou em criança, tendo motivado uma aprendizagem contínua que ainda hoje alimenta a curiosidade e o gosto pelas “invenções”. Rui Miragaia, de 36 anos, conheceu o ferro ao lado do pai, Mateus Miragaia, ferreiro em Donfins, freguesia de São Pedro do Jarmelo (Guarda). «Tinha os materiais, tinha ideias e assim comecei», lembra o escultor, a residir em Cascais.
«Comecei a bater o ferro com o meu pai, lá na oficina», frisa Rui Miragaia, sublinhando que «ainda conservo muita curiosidade em fazer experiências estruturais e dinâmicas». Foi com orgulho que mostrou as primeiras ferramentas ou «as facas tipo “Rambo” que estavam na moda», mas demorou a perceber que «isto era mais do que brincadeira», confessa. O artista não tem dúvidas que a escultura “Os assassinos de Inês de Castro” (Jarmelo, 2006) marcou a diferença: «Fiquei inquieto com o que tinha feito; é a obra que mais me liga a um local», considera.
A exigência, essa, é variável: Rui Miragaia demorou seis meses a terminar “Mar” (Cascais, 2010), mas apenas algumas horas a conceber “Cara Chapada”. «Para quem passa a vida ligado a projetos de certa forma repentinos, os mais marcantes são o primeiro e o último», evidencia. Assim sendo, “Animais de Ferro” (2004) e “Ressureição do Galo” (2013), uma peça dinâmica colocada na Praça Martim Moniz (Lisboa), ocupam atualmente lugares de destaque, juntamente com a obra de 2006. A identidade jarmelista e beirã pode estar presente, mas não define a relação de Rui Miragaia com o ferro: «Já tentei “abafar” essa identidade com receio de represálias, que sempre surgiam, mas tenho essa questão resolvida e vivo tranquilo com o percurso que me trouxe até aqui», garante.
Com projetos em cinema, televisão e publicidade, o criativo não tem preferência mas «dá-me “gozo” mudar de ritmo, ver gente nova», vinca. A representação levou-o até Lisboa, onde participou em filmes, séries e teatro, mas ficou ligado ao meio audiovisual na produção e depois na decoração dos cenários. «Até ao fim do ano faço a decoração/adereços do programa Breviário Biltre (RTP1)», refere. «As minhas ambições profissionais são fazer mais e melhor, mas a grande ambição é viver com saúde ao pé dos que amo», salienta.
Sara Quelhas