Ainda não chegámos ao final da manhã e já uma cliente da papelaria Mestre Cópia, no Bairro das Lameirinhas, se deslocou ao edifício dos Serviços de Ação Social do Instituto Politécnico da Guarda para utilizar a caixa multibanco. A moradora contava pagar com o cartão multibanco, o que não é possível, e o bairro não acolhe qualquer caixa ATM desde a saída daquela que se encontrava no exterior do Centro de Emprego.
«Todos os dias há pessoas que se esquecem e têm de ir ao centro», disse Ana Gonçalves a O INTERIOR. A gerente do Mestre Cópia já perdeu a conta às vezes que tal aconteceu e que os clientes criticaram a falta de uma caixa nas redondezas: «Queixam-se porque têm de percorrer uma distância assinalável», conta, sublinhando que «no inverno ainda é pior, pois muitos vão a pé». A comerciante mostra-se insatisfeita com a situação, já que «era importante para todos». O problema repete-se na papelaria Só Cópia. «Tenho o multibanco da loja avariado e há quem vá ao centro de propósito», assinala Sara Costa, ressalvando que «trabalho com margens muito curtas, pelo que se pagam com cartão a margem de lucro quase vai para o banco». Ainda assim, há pagamentos que só podem ser feitos em dinheiro, como as portagens. «O serviço “payshop” não pode ser pago por multibanco; cheguei a ter pessoas que diziam que iam levantar dinheiro e não voltavam». Agora só ativa o serviço depois de o cliente apresentar o dinheiro: «Com a caixa longe há o risco de não se ver o dinheiro», lamenta.
Uma caixa multibanco «não é urgente, já cá devia estar», frisa. A comerciante disponibilizou parte da loja para a colocação do equipamento há vários anos, mas a resposta deixou-a boquiaberta: «O banco disse-me que tinha de fazer um estudo de mercado para justificar a caixa multibanco. Se eles acham que com a população que o bairro tem não se justifica, não vou ser eu a fazê-lo», considera. «As Lameirinhas têm muitos habitantes, é uma vantagem para a zona comercial e beneficia todos», justifica, deixando um alerta: «Os idosos têm de se deslocar ao centro e correm o risco de serem assaltados», sublinha Sara Costa.
Luísa Almeida, do Minimercado Maria Luísa, também destaca as dificuldades acrescidas que os idosos vivem: «Alguns vão de bengala e podem não conseguir subir as escadas [dos Serviços de Ação Social]», indica. Apesar de considerar que os seus clientes já estão habituados, a comerciante reitera que «é urgente» corrigir a falta, considerando que «o bairro está uma aldeia», vinca. Já Eduarda Ferrão defende que «é um bem essencial que era conveniente regressar». A moradora nem sempre se pode deslocar, pelo que recorre muitas vezes ao apoio de familiares: «Há dias em que tenho de pedir que me levem ou levantem o dinheiro», conta, salientando que «é um gasto extra em gasolina e faz muita falta». Já Manuel Veiga, outro residente, não usa o equipamento mas entende que é necessário. «Tem de se ir de propósito ao centro», lamenta.
Contactado por O INTERIOR, o presidente da Junta da Guarda referiu que a colocação de uma caixa ATM no Bairro «não depende da Junta». No entanto, João Prata garantiu que «vamos solicitar às instituições bancárias que coloquem lá uma caixa multibanco», sublinhando que foi «confrontado com essa questão na campanha eleitoral».
Sara Quelhas