“Milhões viram a maçã cair mas só Newton perguntou porquê.”
Bernard Baruch
Escrevo no dia em que, oficialmente, se inicia mais um ano letivo. A algaraviada costumeira da criançada ecoa nos pátios da escola. Dá-lhe cor. Dá-lhe som. Dá-lhe vida. Talvez por isso, por paradoxal que possa parecer, dou comigo a fazer um esforço de memória e a recordar a entrevista de sua excelência o senhor Ministro da Educação, Nuno Crato de seu nome. Exatamente o oposto. Cinzentismo. Discurso redondo e ininteligível. Gritante falta de rigor. No fundo, a antítese do que deveria ser o discurso de um ministro da educação no lançamento de um ano letivo: esclarecedor, agregador, motivador. Numa só palavra: pedagógico.
No final da dita entrevista vi-me num mar de incertezas: não sabia (não sei, aliás, se já sei…) se era comiseração o que sentia, se era revolta, se, pura e simplesmente, era alheamento de tudo o que ouvira.
Ora, fazendo de Newton da expressão acima citada, quem sabe não seria essa mesma a intenção daquele discurso sensaborão. A de fazer as vezes do Vitinho do “São horas Vitinho/vamos lá dormir…”de antigamente e nos manter ensonados e alheados de uma realidade cada vez mais pintada a tons de luto. Eis pois a questão primeira.
Passemos agora à segunda:
Há uns dias atrás o candidato que subiu às terras altas por uma indomável vontade de prometer futuro radioso à capital de distrito terá afirmado que, caso não ganhasse as eleições, não assumiria o cargo de vereador. Em boa hora o declarou pois, assim, poderão os seus putativos eleitores ficar a saber que o seu voto, caso não sirva para o eleger para a cadeira maior do executivo, servirá como guia de marcha da cidade com a qual, vistas bem as coisas, apenas pretende um casamento de conveniência.
Afinal o que se diz no slogan pode pecar por omissão. Em boa verdade não se deveria quedar pelo “Guarda com Futuro” deveria conter também o “comigo vencedor caso contrário dou às de vila-diogo e deixo-vos com o dilúvio de tal modo que nunca mais vos lobrigarei lá da minha cátedra coimbrã nem no mais detalhado mapa das terras mais tristes de Portugal e arredores de Castela”.
Tenho cá para mim a Guarda, a minha Guarda, merece bem mais que um candidato que, em tom de ameaça, vai ao “sim ou sopas” e, esta é, apenas e só a minha opinião, pode, em caso de derrota eleitoral, desrespeitar aqueles que vierem a depositar na urna a sua confiança marcando com uma cruz o símbolo que defende.
Caro candidato, por vezes os slogans que os “marketeiros” políticos inventam depois de noites de insónia têm destas coisas: vai-se a ver e olha, afinal não joga a bota com a perdigota.
Ou, como sabiamente filosofa o Zé Povinho, cantas bem mas não me alegras…
Por: Norberto Gonçalves