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«É mais difícil ser livre do que puxar uma carroça» (Vergílio Ferreira)

Na lassidão de um Verão eleiçoeiro vamos assistindo ao prometimento adequado às circunstâncias.

O léxico promesseiro pouco varia de outras campanhas recentes, o que indicia que o cumprimento das promessas anteriores ficaram-se pelas más intenções de quem as terá feito e descumpriu-as.

Em todas as cidades da região, outrora importantes, limitam-se a dar uma imagem serôdia de estatuto passadista, com as propostas mais bizarras por parte de candidatos, esquecendo ou fingindo deslembrar que a fuga de gente se deve à falta de expectativas, fruto do malbaratar destes anos todos da gestão da causa pública. As vilas lá fazem o seu caminho no sentido de serem desclassificadas, e tornarem-se aldeias grandes no seu percurso irreversível para a degradação do seu património e para desesperança dos seus habitantes. As aldeias imergem num lodaçal de ideias ao ponto da promessa que maior acolhimento produz reduz-se à reabilitação ou redimensionamento do lar ou a construção de uma sala funerária com alguma dignidade. Demasiado cruel para ser verdade, mas é esta a realidade pungente que assistimos no quotidiano.

Este interior está hoje condenado porque não há emprego. Podem vir as estultices do tipo património da humanidade, teatro nacional ou algo do género que no grande problema ninguém ousa tocar: Não se inova nas propostas para o desenvolvimento económico para que os recursos se potenciem, sejam geradores de receitas e concomitantemente que se criem expectativas de empregos dignos e mobilizadores de novas dinâmicas e expectativas.

Não quero sonhar acordado por isso vou-me entretendo com as frases descabeladas de uma megera da família Espírito Santo, do BES, que já nem se coíbe de dizer em público o que deve ser motivo de chalaça e gáudio nas reuniões familiares deste tipo de gente: “Aqui brincamos aos pobrezinhos”. Esclareça-se que o bisavô desta fulana chamou-se Espírito Santo porque foi deixado embrulhado num xaile numa roda de um convento, pois a mãe provavelmente nem pobrezinha conseguia ser. Como diria Jorge de Sena: «Eu sou a favor da prostituição. Há pessoas, aliás, que não têm vocação para outra coisa.»

Estou numa encruzilhada complicada. Não sei se me tornei mais exigente comigo, se estou menos tolerante perante a estultícia, ou se baixou claramente o nível da discussão e do comentário no conjunto dos fazedores de opinião deste país! Banalizou-se tudo de uma forma tão rápida, que ideologicamente se esbateram as diferenças e cada vez mais é tudo igual com palavras diferentes. Às exceções não lhe é dada importância nem tampouco tempo de publicação.

Hoje é tudo demasiado igual e ideologicamente passámos a constatar que as diferenças estão entre as convicções Zara, Pull & Bear, Primark ou na contrafação da Lacoste ou Timberland, entre outras. Qual Marx, qual Max Weber, qual Lenine, qual Trotsky, ou até mesmo o Maurras de má memória. Isso «faz parte da diarreia mental do século XIX», como diria o “Manholas” do Salazar, tão idolatrado por gente que se esqueceu rapidamente desses tempos, ou nunca os viveu, felizmente!

Numa entrevista de 1977, a Manuel Poppe, Sena cita Unamuno numa frase nunca impressa por cá – Portugal, numa das suas múltiplas visitas, deu-lhe a impressão de «um país de anões todos na ponta dos pés para parecerem muito altos».

Fico-me, e já agora aproveitem o sol!

Por: Fernando Pereira

Comentários dos nossos leitores
Maria José Aguiar maria.jose@agrolima.com
Comentário:
Assino por baixo, posso???
 

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