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O triunfo dos porcos

Agora Digo Eu

A causa bolchevista foi traída. Por Josef Estaline. Orwell condena assim a traição de Estaline à causa revolucionária numa tomada de poder pelos animais de uma quinta que elegeram uma nova liderança, a que se segue o desvirtuar de todas as intenções revolucionárias.

Neste conto cada animal representa uma figura do povo, esperando que o novo chefe se revele melhor que o anterior. O facto é que ao escolher o novo líder, pessoa de falinhas mansas, qual lobo com pele de cordeiro, ele introduzirá novas políticas que ao principio se revelam mais ou menos eficazes, mas com o decorrer dos tempos percebe-se que quem o empurrou para a chefia foi um punhado de bestas que apenas pretendem alguém que os represente. O triunfo de alguns, nasce e desenvolve-se a partir do sofrimento da grande maioria. Napoleão, o porco que tomou o poder, dita assim novas regras, revelando-se um déspota autoritário e sem escrúpulos. E aquilo que ao princípio parecia uma revolução tranquila percebe-se que não passa de uma tomada de poder onde se desvirtuam todas as intenções revolucionárias, sentindo-se, a maioria da quinta terrivelmente enganada, ultrajada, injustiçada por uma limitada vara de arrogantes, prepotentes e medíocres porcos apenas preocupados com a manutenção dos seus interesses e dos que coabitam nas esferas de influência.

A palavra coligação significa, entre outras coisas, aliança, liga de diversas pessoas para um fim comum, união e confederação. Mas, curiosamente, também significa trama, sendo que mais cedo ou mais tarde todas as coligações têm um fim anunciado: o divórcio litigioso. A coligação que atualmente nos (des)governa não é boa, não goza de nenhuma saúde e não se recomenda. As personagens políticas, de um ou outro lado, não andam ideologicamente assim tão longe, umas andam mais atrás que outras, coadjuvam-se poucas vezes mas progridem (quase) sempre, ficando assim a leitura da crónica do passado, nesta história da paz podre do presente e sem qualquer programa de futuro, onde a razão dialética se opõe à razão constituída. Se é verdade que Stefan Zweig afirma que, «em política, é impossível perdoar aos considerados culpados», não é menos verdade que aqui temos de aplicar a máxima de Ortega e Gasset: «Cada um sente-se ligado à sua circunstância».

A Pátria, palavra em desuso, tornou-se compatível a um prédio que secretamente lhe extraíram os alicerces. «Os muros fendem-se, os pavimentos desnivelam-se, as padieiras desaprumam-se, as soleiras racham, os estuques abarrigam, os travejamentos rangem e os inquilinos fogem com medo da derrocada total», sendo que nesta fuga anunciada o melhor mesmo é pedir emprestada a ilha das galinhas e ir para lá todo o cenáculo tendo em vista ensaiar novas formas de governo, a principiar por um regime despótico, num espetáculo com os 13 ministros e uma forca.

Ninguém me leva a mal se, ao terminar esta crónica, volte novamente a citar Ramalho Ortigão: «O governo é uma corja e os pelintras dos deputados tão bons uns como os outros».

Por: Albino Bárbara

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