O experimentalismo caleidoscópico do norte-americano Elliott Sharp está esta noite na Guarda num concerto exclusivo em Portugal. Criador de sonoridades apocalípticas, onde a pop, o rock, o “free jazz”, a electrónica e a música contemporânea se combinam de forma delirante, o guitarrista nova-iorquino apresenta no auditório municipal, numa iniciativa da autarquia, a versatilidade e originalidade do seu vasto trabalho – conta com mais de meia centena de discos produzidos, pelo menos três bandas criadas (Orchestra Carbon, Tectonics e Terraplane) e uma editora (a zOaR Records). É também uma oportunidade única para descobrir o seu estilo turbulento a tocar guitarra e a complexidade matemática das suas composições, patente em “The Velocity of Hue”, o seu último álbum.
Guitarrista exímio, Elliott Sharp, também conhecido por E#, colaborou em diversos trabalhos com outro nome sonante da música nova-iorquina, John Zorn. Multi-instrumentista e compositor, os temas que Sharp compõe baseiam-se na música clássica contemporânea, sons que transfere para a sua guitarra clássica, para o baixo, o clarinete ou o saxofone. Experimentalista nato, explora também os sons da electrónica, compondo em computador. Segundo os críticos, a sua música não é classificável, pois tanto aproveita a turbulência electrónica, como desenvolve os domínios do rock progressivo dos idos anos 70. Com formação clássica de piano iniciada aos 6 anos, Elliott Sharp começou a tocar clarinete por causa da asma e como forma de fortalecer os pulmões, mas foi aos 17 anos que descobriu a sua vocação de guitarrista ao ouvir Jimi Hendrix na rádio. Segundo a britânica Enciclopédia da Música Popular, foi quanto bastou para comprar uma guitarra eléctrica que adornou de inúmeros acessórios para desenvolver e apurar a sua técnica. Para além da tecnologia, Sharp estudou as técnicas músico-matemáticas do compositor grego Xenakis e os trabalhos de John Cage, Henry Cowell e Harry Partch. Entretanto, começou a tocar em pequenas bandas de rock e a experimentar praticamente tudo, do blues ao jazz fusão.
Aproveitou a passagem pela Universidade de Cornell, onde cursou Antropologia, para frequentar aulas de electrónica, seguindo posteriormente para o Bard College onde estudou composição, com especial destaque para os trabalhos de Thelonious Monk e Duke Ellington. É nesta fase universitária que começa a tocar saxofone e compõe temas recorrendo a gravações manipuladas e à improvisação estruturada. No início dos anos 80 compôs uma ópera electrónica “Innonsense”, para três improvisadores, tocou “free jazz” e fundou os Carbon – e mais tarde os Terraplane – para melhor explorar os seus conceitos musicais. Elliot Sharp é um multi-instrumentista (guitarra, clarinete, sax tenor e soprano, percussão e cítara) e um manipulador inveterado do computador e do sintetizador, o que lhe permite desenvolver os seus conceitos de composição. Por outro lado, fabrica ele próprio os mecanismos que usa nas composições e actuações, para além de criar instrumentos, caso da “pantar”, uma guitarra eléctrica, ou do “violinoid”, uma espécie de violino eléctrico. Paralelamente, Elliott Sharp é também conhecido pelo seu sentido de humor introduzido não só nas suas composições como também na definição de si próprio. Já que se vê um “Zen-Groucho Marxist”. O bilhete custa 3 euros, sujeitos aos habituais descontos, podendo ser reservados no gabinete de relações públicas da Câmara da Guarda e livraria municipal.
Luis Martins