Desde Setembro de 2002 que a Motoravia, empresa ligada ao sector da aeronáutica, aguarda pelas condições necessárias para se fixar, com a empresa sul-africana Júpiter Aircraft, num terreno cedido pela autarquia junto ao aeródromo da Covilhã.
Com o Plano Director do Aeródromo «mais ou menos encaminhado» – e que era igualmente um obstáculo -, o presidente do Conselho de Administração da empresa, sedeada em Ponto de Sôr, disse a “O Interior” que não poderia arriscar-se a avançar com a montagem de uma linha de aviões de quatro lugares na Covilhã enquanto o país não oferecer as «condições mínimas» em termos económicos e legislativos. «Não há apoios definidos nem legislação adequada», salientou João Folgado, esperando que a realidade do país possa resolver-se durante este ano. Mas até lá, João Folgado garante que a empresa «não irá avançar nada» do projecto. Para que a iniciativa empresarial seja real é necessário que o Governo mude a «lei obsoleta» aplicada ao sector que, por «ter mais de 30 anos», está completamente «desadequada dos padrões técnicos de segurança» exigidos pela Comunidade Europeia. Um obstáculo que «impede a construção de aeronaves evoluídas» e que propícia pouca segurança aos equipamentos, numa alusão às nove vítimas mortais dos acidentes registados em Portugal no ano passado. Para obter a certificação de qualidade e segurança, as aeronaves da Motoravia são montadas em França, onde esta lei comunitária com seis anos já está em vigor, para onde a empresa de Ponte de Sôr exporta cerca de 70 aeronaves por ano.
Por isso, «não vale a pena» fixar a estrutura na Covilhã enquanto esta realidade não for alterada em Portugal, pois «custos enormes» impedirão que o projecto se torne «competitivo», explica João Folgado. Já os cortes nos empréstimos bancários, que dificultam ainda mais a aposta em novos investimentos, e o aumento do desemprego são outros factores que levam a Motoravia a agir com «prudência». Apesar de estar há quase dezasseis meses em «”stand by”», João Folgado garante que a iniciativa vai avançar na Covilhã, uma vez que os investidores ainda mantêm as intenções «firmes como no primeiro dia». Até porque a “cidade neve” já tinha sido apontada pelo responsável como o local ideal para acolher este projecto empresarial devido ao aeródromo e ao departamento de Ciências Aeroespaciais da Universidade da Beira Interior, tendo então sido ratificado um protocolo de colaboração para garantir apoio técnico, cedência de “know-how” e a absorção de recém-licenciados. Com esta iniciativa empresarial, a Covilhã tem a oportunidade de criar novos postos de trabalho, fixar alunos deslocados na cidade e na região, para além de se afirmar no domínio da tecnologia e ciências aeroespaciais com o desenvolvimento de tecnologia de ponta. O protocolo está já em funcionamento, mas ainda caminha com alguma lentidão devido à distância entre as duas cidades.
Liliana Correia