Ao longo deste tempo, e fruto do afeto e envolvimento profundo que vivo com a minha terra, orgulho-me de ter contribuído para algumas das mudanças em que me revejo na cidade e no distrito. Sem dúvida que é sempre possível fazer mais!
Vivemos tempos difíceis, onde as escolhas devem ser criteriosas, onde a união e partilha de ideias e projetos poderão mobilizar e transformar o distrito, e assim combater as políticas sem critério e fragmentadoras. Este Governo acabou com os Governos Civis, não para “cortar nas gorduras do Estado”, mas confirmando uma posição maquiavélica com a única intenção de calar uma voz incómoda que fazia chegar as preocupações e necessidades dos distritos aos governantes. A Guarda, assim como as outras cidades capitais de distrito, perdeu um pouco dessa simbologia, mas há que continuar a ganhar a liderança de vários projetos.
Hoje, vivemos um momento ímpar no nosso país, importa que os habitantes do distrito da Guarda se mantenham unidos e que defendam a sua identidade. É urgente dar a devida importância a tudo quanto de bom por cá se faz. Hoje, como ontem, iremos vencer!
Teremos que ter capacidade para fixar os nossos jovens para que perdurem as esperanças e os sonhos comuns.
Quando ouvimos o ministro da Educação falar do número de instituições de ensino superior que existem entre Vila Real e Portalegre há que ter a coragem de levantar a nossa voz bem alto e defender o nosso IPG, que foi, é e será uma alavanca importantíssima no desenvolvimento do nosso distrito e região.
Devemos apostar em projetos modernos e inovadores que consigam potenciar os recursos endógenos da nossa região. Devemos valorizar os produtos regionais dando-lhes uma nova roupagem, criando valor e potencial futuro. Temos que criar condições, roteiros, atrações dispersas por todo o território que chamem e mobilizem de facto os que nos visitam. Façamos parcerias com outros agentes e mostremos ao mundo toda a nossa riqueza e diversidade.
O distrito da Guarda continua vivo. Continua a ser o distrito em Portugal que melhor integra todas as diferenças. Desde o vinho, às manifestações culturais que atestam a história e desenvolvimento humano da zona de Foz Côa, desde o valor patrimonial das Aldeias Históricas, desde a ligação profunda com Espanha das terras da raia, desde o valor dos sabores, o brilho e a cor da rara beleza natural das nossas serras, dos nossos produtos singulares, todos resultam numa harmonia indissociável, de uma singularidade ímpar.
O distrito da Guarda é hoje servido por ótimas rodovias, que o pagamento de portagens veio prejudicar, mas dada a situação geo-estratégica não poderemos perder a ideia de toda a importância da logística a nível nacional e internacional.
A criação da ULS da Guarda veio trazer nova esperança para que o distrito continuasse a sentir a saúde como uma referência a nível nacional. Os atrasos sucessivos na abertura da obra já executada do hospital e a dúvida sobre a conclusão do projeto que prevê a recuperação dos pavilhões existentes deixa-nos apreensivos e mais uma vez deveremos unir-nos para defender aquilo que tanto custou a conquistar.
O distrito da Guarda sempre sofreu pelo facto dos governantes terem apostado no litoral, mas os guardenses souberam em cada momento dar resposta cabal a todas as dificuldades. Soubemos valorizar o nosso património, o nosso saber, a nossa cultura, integrando-nos e ao mesmo tempo valorizando as nossas diferenças. Desde há algum tempo apostamos na cultura e educação como bases do nosso desenvolvimento, tentando desta forma limitar as graves desigualdades com as cidades do litoral e promovendo uma sociedade mais culta, mais formada, mais participativa, mais dinâmica. Conseguimos dar exemplo na área social. Seremos capazes de valorizar os recursos humanos e os equipamentos existentes. O empreendedorismo terá que ser a nova aposta da Guarda.
Não deixemos que continuem a retirar do interior o poder de decisão em todas as áreas. Lutemos por aquilo que é nosso e por um distrito e uma cidade que, com as suas potencialidades, nomeadamente nos setores da saúde, do turismo, da agricultura, da cultura, e da educação, serão um distrito e uma cidade de sucesso.
Por: Maria do Carmo Borges *
* Foi deputada à Assembleia da República em 1999, Governadora Civil do Distrito da Guarda entre 2005 e 2009 e presidente da Câmara Municipal da Guarda entre 1993 e 2005.
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