«Guarda!… Tanto sonho e tanta mágoa…», in “Mare Nostrum”, Guarda, 1984, pág.1.965
A Guarda, velha de 813 anos, apresenta pergaminhos que devemos honrar. Desses pergaminhos, deve falar quem sabe. Não me compete a mim, portanto, falar daquilo sobre o qual nada sei. Com o atrevimento dos meus 17 anos, consigo apenas ver parte do presente e fazer umas perguntas.
A Guarda, enquanto capital de distrito, tem mantido um protagonismo análogo às restantes capitais de distrito? Tem subido ou descido de relevância?
Os eleitos pela Guarda têm servido, no essencial, a cidade e as suas gentes ou outros interesses?
A produção agrícola tem aumentado ou diminuído nos últimos anos?
Qual a variação do número de postos de trabalho no sector industrial nos tempos recentes?
A Guarda tem ganho ou perdido serviços?
O saldo demográfico do distrito da Guarda tem sido positivo?
Somos jovens ou idosos?
Analisem-se então as repostas a estas questões… Sendo estas globalmente negativas, que será do distrito daqui a 10 anos? Quais são os desenvolvimentos que estão previstos para esse intervalo de tempo? Quais os projetos em curso para levar o distrito para a frente? Estaremos a eleger as lideranças adequadas?
Algo tem que mudar. A minha geração olha para a sua terra natal como um “beco sem saída”, como uma terra sem perspetivas de futuro. Os 813 anos de história e as suas gentes não conseguem virar isto do avesso? É intolerável que esta geração tenha vontade de desistir e “abandonar o barco” ainda antes de ter tentado fazer algo de útil pela sua terra. Estamos aos poucos a perder a noção da nossa terra, o orgulho da terra onde nascemos, e a contribuir para o êxodo rural.
Já ontem era tarde para defendermos o que é nosso! Deixemo-nos de pseudopolíticas, premie-se a competência em vez dos cartões de filiação política. Não podemos permitir a ultrapassagem, uma e outra vez, pelos vizinhos. Basta de resignação.
Há que arregaçar as mangas! Delinear planos a médio e longo prazo para recolocar a Guarda no mapa como local de residência e não apenas como local de passagem. Fazer renascer a agricultura e a indústria no distrito, promovendo assim o emprego e o desenvolvimento socioeconómico. Garantir serviços de qualidade para a população. Há que manter a união e a coerência na luta pelo fundamental. Só assim poderemos sair do “buraco” para onde nos levaram; só assim poderemos readquirir a esperança, que nos falta, não só a nós, jovens, como à população em geral.
Gonçalo Valbom
* 17 anos, aluno do 12º ano na Escola Secundária Afonso de Albuquerque