Os povos da Europa nesta segunda década do século XXI tentam perceber como é que um obstáculo de entendimento, que afeta os lideres europeus, pode retardar, entravar e impedir o aparecimento de um novo regime político que dê lugar a um novo modelo de economia capaz de responder às necessidades de uma época histórica que se apresenta transformadora dos velhos paradigmas e mobilizadora para uma consciência do emergente e no novo.
Quem e com que bagagem política e social será capaz de entender esta necessidade de limpar a velha árvore, para que novos ramos apareçam plenos de energia e de futuro? Que pessoas serão essas com capacidade para anunciarem uma nova esperança e uma nova segurança, que os povos europeus ambicionam, merecem e já reclamam com evidente ansiedade (…)?
Os governantes deste tempo – ou a sua alegoria – apenas têm olhos e entendimento para o que de mais aberrante marcou as antigas sociedades, e teimam na submissão dos povos, como se isso representasse o seu “abre-te sésamo” para solucionar a mediocridade atávica de que veem possuídos desde a infância.
Foi preciso inventar um novo Satanás com uma legião de novos demónios, (défice, mercados, dívida soberana, crise), e transformar a solidariedade que os mais ricos devem aos mais pobres, numa espécie de novo Purgatório, como justificação para a incapacidade intelectual de aprendizes de políticos ou novos tiranos, que apenas souberam agravar as injustiças e as desigualdades, como se a mesa da sociedade do conhecimento só tivesse lugar para alguns auto-eleitos Santos porque superiores. (Onde já vimos isto?)!!!
Esta sociedade maniqueia e impiedosa – que separa os bons dos maus e que tira os direitos de uns para os entregar aos outros – não será viável! Talvez seja necessário levantar de novo a bandeira dos povos para se repor o direito de viver em dignidade, que uma pequena minoria julga ter surripiado à maioria sem que esta tenha percebido!.
As opções políticas que decidiram a História do século XX, devem ser olhadas com vontade de aprender, mas também com o dever da sua interpretação, assumindo plenamente a nossa responsabilidade, que cresce à medida que o tempo nos afasta dos acontecimentos que moldaram a sociedade ocidental do último século.
Os modelos interpretativos que se refletem nos conceitos do totalitarismo ou de doutrina política, ou mesmo na ideia mais simples de estado de exceção são também modelos de debate político onde se podem encontrar amigos ou inimigos de perto ou de longe.
Ao conceito de estado de exceção associou-se, quase sempre, noções de ditadura ou tirania que levam à formulação de um esquema de reconstrução histórica, em alinhamento com matrizes de sociedade usadas para mobilização permanente do uso da força que impulsiona à pobreza e ao domínio dos povos.
Não é estranho para ninguém que a Democracia vive lado a lado com um sistema de totalitarismo económico-político que faz engrossar a multidão de pobres, que são cada vez mais pobres, não se inibindo o estado de lhe exigir renovados sacrifícios, como se pretendesse empurrar o povo português até um limite intransponível, onde o abismo se oferece como única alternativa.
Talvez esteja na hora de se perguntar ao governo, aos políticos e aos dirigentes sindicais pelos seus próprios sacrifícios, e exigir que digam, claramente, se estão dispostos a abdicar de uma boa parte dos seus rendimentos para desagravarem o povo que tanto dizem representar e defender.
Vamos lá meus senhores… digam-nos, mais com atos do que com palavras, aquilo de que são capazes! Tentem, pelo menos uma vez, fazer como sempre fizeram os verdadeiros lideres: tomem a dianteira e deem o exemplo! O povo seguir-vos-há!
Por: Quelhas Gaspar