Estou em “blackout” passivo. Decidi que o melhor a fazer para manter a minha sanidade mental era simplesmente deixar de ver, ouvir e ler notícias e confesso que me sinto muito bem! Ver noticiários, ultimamente, era um ato de puro masoquismo. Acordava com a TSF a informar-me que a minha vida e do meu país ia de mal a pior; ao almoço anunciavam-me mais um pacote de austeridade, à noite uma trupe de iluminados na SIC, SIC Noticias, TVI, TVI 24, RTP1, RTPN, RTP2, destilando lições de economia, dissecavam mais este pacote, aventando soluções miraculosas ou então resignando-se perante mais este aperto. E eu, no meio disto tudo, começando a ficar de testa franzida e deprimido.
No local de trabalho, mais do mesmo. Todos a fazer contas à vida, fazendo figas para que o salário, cada vez mais magro, continue a chegar ao fim do mês e comentando que aos vermes do arco do poder e aos seus acólitos a austeridade não lhes chega. A cara de pau do Zorrinho ao anunciar que o (nosso!) Audi A5 e os três Passat do grupo do PS “apenas” ia custar 3.700 euros de renda mensal, durante 4 anos. Foi das últimas notícias que ouvi. Todos nos tornámos comentadores políticos e economistas, mas não passamos de ministros sem pasta e de trabalhadores com cada vez menos “pasta”. O que fazer então? Segundo um provérbio chinês que soa a solução tipo “ovo de Colombo”, «se o problema tem solução, não te preocupes, porque tem solução; se o problema não tem solução, não te preocupes, porque não tem solução». Parti para essa, estou noutra. Há mais de quinze dias que não sei nada de nada do meu país e do mundo e, como diria o Gato Fedorento, numa das suas personagens, estou a adorar!
Acordo hoje com a Antena 2, com a agradável e tranquilizadora música clássica, e desligo o rádio assim que a voz me tenta dar notícias. No trabalho, evito conversas com o grupo de professores que se dedica à auto-flagelação troiquiana; no carro só os velhinhos Pink Floyd – deles só boas vibrações; às refeições TV na posição “off” e, no pouco tempo que resta, ao fim do dia, depois de preparar as aulas, no sofá só documentários de biologia, de geologia ou então de motores. O balanço que faço desta austeridade noticiosa é muito positivo: melhorei o humor, tenho mais disponibilidade para a família, mais tempo para a cultura e, acima de tudo, acabei com algo que se estava a tornar doentio, obsessivo e que em nada contribuía para a minha felicidade e da dos que me rodeiam. Compreendo que o Luís Martins possa achar este artigo um tiro nos pés do nosso O INTERIOR, mas as más notícias da nossa cidade e da inércia camarária já vêm de longe, pelo que ao senti-las todos os dias, só temos que confirmá-las aqui, e, dessas, nem eu me posso livrar (risos).
Há um sadismo impregnado no DNA das agências noticiosas. Só as más notícias vendem e, aquelas, têm um prazer sádico em no-las transmitir de manhã, ao almoço, à tarde, à noite, ao serão e ainda à hora de almoço do dia seguinte! As mesmas malditas notícias. A razão para este estado de coisas é só uma: Nós. Nós é que damos audiências imerecidas aos canais, nós é que alimentamos o monstro, nós é que estupidificamos perante a onda de más notícias e, num gesto, masoquista, continuamos a absorvê-las, como se a nossa vida dependesse disso! Como se isso tivesse que ser assim! Citando um monólogo extraído do filme “Network”, de 1976, incluído no documentário, obrigatório, “Zeitgeist”, o ator, numa interpretação brilhante, e premonitória dos tempos atuais, diz: «Eu não vos preciso de dizer que as coisas estão más. Estão pior do que más. O dólar compra tudo. Os bancos fazem a festa. O ar está impróprio para respirar e a comida está imprópria para comer. Mas sentamo-nos a ver as nossas TV´s enquanto os noticiários nos dizem que as coisas estão más. Nós sabemos que estão más, pior do que más. Estão doidos! É como se tudo em todo o lado estivesse a enlouquecer e não saímos mais à rua. Sentamo-nos em casa e lentamente o mundo em que vivemos vai ficando mais pequeno e tudo o que dizemos é, “Por favor deixem-nos sozinhos na nossa sala de estar! Deixem-me ficar com a minha torradeira e a minha TV e eu não digo nada. Deixem-nos em paz!” Mas eu não vos vou deixar em paz. Eu quero que fiquem zangados! Não quero que protestem, nem se revoltem, não quero que escrevam aos vossos governantes, porque não saberia dizer-vos o que escrever. Eu não sei o que fazer acerca da depressão, da inflação e dos crimes nas ruas. Tudo o que sei é que deves zangar-te! Tens que dizer: “Sou um ser humano, porra, a minha vida tem valor!»
Entretanto, quando este e outros governos caírem, e forem sendo substituídos, milhões de nós, com o nosso voto, como carneirinhos, reelegeremos os mesmos parasitas, os mesmos corruptos, os mesmos escroques, a mesma m…. de sempre e eles, depois de eleitos, no conforto dos seus gabinetes vão agradecer-nos dizendo: “Obrigado, trouxas!”
Por: José Carlos Lopes