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«Este Governo pode vir a ser reconhecido como o coveiro da Beira Interior»

Entrevista a Luís Veiga, administrador-executivo do grupo Natura IMB Hotels

P – Que retrato pode fazer do grupo Natura IMB Hotels no quadro da atual conjuntura financeira?

R – O grupo já tem 23 anos de vida na área do turismo. Nós estamos noutras áreas, também no têxtil há muito mais tempo, mas este investimento no turismo tem a ver com uma oportunidade que o destino Serra da Estrela encerrava para esta área e, sendo um grupo oriundo da Covilhã e tendo sido a Covilhã de alguma forma protegida na área do têxtil, nunca se registaram investimentos avultados no turismo. Esta oportunidade surge e o grupo foi-se expandindo, foi aproveitando as oportunidades, não só que o próprio mercado tinha na Covilhã, mas também expandindo-se para a Guarda e fechando de certa forma o círculo na região da Serra da Estrela. O grupo neste momento tem cinco hotéis, cerca de mil camas, 500 quartos, é claramente o líder no destino Serra da Estrela e neste momento é um grupo reconhecido a nível nacional. Eu fui convidado para a direção da AHP, Associação da Hotelaria de Portugal, onde sou vice-presidente, e tento dar o meu contributo para o setor hoteleiro com a minha experiência nesta área. O reconhecimento maior, e ex-libris do grupo, tem sido o H2otel que acabou de receber dois prémios este ano. O primeiro do Turismo de Portugal, como reconhecimento pelo melhor projeto privado na área hoteleira. E outro agora, pelo Travel Awards da Publituris, em que fomos considerados o melhor hotel quatro estrelas do país. São dois reconhecimentos que identificam o H2otel como uma expressão da melhor unidade hoteleira no país pela diversidade de serviços, oferta e também pela inovação que apresentou neste mercado cada vez mais difícil, em que a oferta é bastante grande, temos que admitir isso, nalgumas regiões e sobretudo em regiões onde a sazonalidade também é muito forte. O turismo está a passar por uma situação muito idêntica a todos os setores de atividade. Há hotéis cinco estrelas muito bons e hotéis cinco estrelas que estão muito mal. E nesse aspeto nós temos conseguido, de alguma forma, manter aqui um certo equilíbrio em termos de oferta. Felizmente, o destino Serra da Estrela é um destino de que ninguém fala em fecho de hotéis, é um ícone no país, um produto muito forte que permite que haja também alguma disponibilidade e procura durante todo o ano. O produto neve tem sido gradualmente substituído por outro tipo de produtos: as aldeias históricas, o turismo judaico, que é um turismo em que nós trabalhamos muito bem e estamos muito bem posicionados, a investir bastante e a potenciar cada vez mais a procura. O turismo judaico é claramente uma aposta que a Guarda tem de ter, a exemplo do que Trancoso e Belmonte têm estado a fazer. A Guarda já fez um bom trabalho de investigação, de identificação dos cristãos-novos e de todos os elementos do judaísmo, naquilo que nós podemos chamar o bairro judeu. Agora há um conjunto de atividades que têm de ser feitas e que Belmonte está a fazer.

P – Há um projeto que se falou da possibilidade de ser entregue ao arquiteto Frank Gehry para a construção de um hotel na zona do Vale do Zêzere, entre Belmonte e a Guarda. Se vier a ser construído acha que poderá também ser uma mais-valia para desenvolver o turismo judaico?

R – Não sei em que pé está esse projeto neste momento, mas todo o contributo e toda a convergência que se possa fazer nesta região para atrair mais turismo judaico é importante. O turismo judaico tem uma expressão enorme em muitos países da Europa. Temos neste momento grupos de judeus que aterram no aeroporto de Madrid e vêm à Guarda e a Belmonte, de autocarro. É um facto que o turismo que está aqui é muito importante. Há muitos outros grupos de judeus, não só israelitas mas também americanos, que aterram na Portela.

P – É um mercado em crescimento?

R – É um mercado em que estamos a apostar muito neste momento. Aliás já investimos no mercado judaico há bastante tempo nomeadamente na formação kosher da nossa cozinha e neste momento nos quatro hotéis que têm restaurante (os dois na Covilhã e dois na Guarda) todos os chefes têm formação kosher. Estamos preparados para isso e temos colaborado nestes festivais e congressos que têm sido feitos e temos estado em intensa comunhão de interesses com meios associados ao judaísmo. É um mercado que nos interessa e que permite que haja grupos regulares de turistas na região entre abril e outubro, num período de verão em que o fator neve não privilegia a vinda de turismo.

P – Quais são as unidades hoteleiras do grupo com melhor ocupação?

R – É claramente o H2otel. Vamos ter este ano uma taxa de ocupação muito perto dos 70 por cento. Os outros andam todos entre os 45 por cento e os 55 por cento, em média. Aqui a questão que se coloca é sempre numa lógica de taxa e de preço médio, ou seja, no H2otel dá-se a coincidência de ser o que tem a maior taxa e o maior preço médio.

P – Qual é a fórmula de sucesso do H2otel, em Unhais da Serra, para contrariar a crise e ter uma elevada taxa de ocupação?

R – É um hotel que está classificado como quatro estrelas mas podia estar com cinco. Nós é que por uma questão de estratégica decidimos que fosse quatro, até porque os hotéis 5 estrelas são, face às circunstâncias económicas e sociais, de alguma forma impeditivos para que algumas empresas, nomeadamente multinacionais, venham pedir serviços a esses hotéis. É um hotel quatro estrelas superior, que tem termas integradas, e que tem sido reconhecido na área da saúde. Tem duas situações completamente distintas dos outros, tem um medical spa, equipa médica permanente, enfermeira de fisioterapia, diretor clínico e personal trainer em permanência. Temos um conjunto de pessoas com consultórios médicos, avaliação e possibilidade de fazer programas de longo prazo, tudo devidamente controlado, avaliado e programado. E isso permite-nos ter um nível de diferenciação em termos de oferta completamente diferente daquilo que existe, há uma apetência muito grande, o enquadramento onde o hotel foi construído é muito agradável, está junto ao parque natural. É uma situação completamente diferente e não existe nada igual no mercado. Foi uma aposta ganha.

P – Qual o impacto que a introdução de portagens na A23 e A25 teve nas receitas do grupo?

R – Esse é o maior custo de contexto que tem toda a zona centro. A zona centro foi a mais penalizada com a introdução de portagens do país, isto por uma razão, a maior parte das SCUT não tem alternativa. Há um número de insolvências bastante grande, há muito desemprego associado a este custo de contexto enorme e a nível do turismo uma redução significativa, tanto a nível de clientes das áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, ao fim ao cabo é a maior fatia, como uma quebra significativa de espanhóis entre 35 a 50 por cento no primeiro semestre, face às reservas do mesmo período do ano passado. Mesmo que pudéssemos ponderar essa quebra com alguma dificuldade por parte do mercado espanhol em deslocar-se, pensamos que a razão maior é eles não entenderem o nosso sistema, não quererem entender, e preferirem não entrar no país. A Guarda é a cidade, e eu tenho dito isso mais vezes e já disse também ao presidente da autarquia, por uma questão de proximidade a que está a ser mais penalizada. Porque o espanhol que vem para estar uma semana em Portugal vai a Lisboa, à Figueira ou a Cascais… Mas o espanhol que vinha para ficar um dia, para dormir uma noite, fazer compras no shopping ou para fazer um jantar na Guarda ou perto, deixou de vir, essa é a maior quebra sentida e as cidades que estão na fronteira são aquelas que são mais penalizadas quando deveria ser o contrário. Esta quebra é assinalável, é lamentável que da parte do Governo não haja uma atenção para esse aspeto e que continue a olhar o país como um todo. Nós já sabíamos que o Governo, no seu programa eleitoral, não tinha evidenciado nenhum apoio ao interior, de alguma forma para estancar esta desertificação humana e eliminar este contínuo envelhecimento que se mantêm na nossa região, numa fórmula que é a da catástrofe social.

P – Quais as estratégias que o grupo adotou para contrariar esse impacto das portagens?

R – Fizemos uma campanha desde há cerca de um ano com os vouchers portagem. Estamos a atribuir aos nossos clientes, a partir de um determinado valor por hotel, um voucher de 30 euros que permite descontar na próxima vinda, desde que esta seja feita no período de seis meses após a saída, embora esse voucher não seja pessoal (pode ser transmitido a um colega ou familiar). Mas isso retira-nos margem porque há clientes que estão a aproveitar o voucher e estão a vir… Nós estamos a ser penalizados, mas tínhamos de avançar com uma campanha que, de alguma forma, contrabalançasse este custo de contexto. Lamentavelmente, o secretário de Estado dos transportes disse que as isenções, tal como foram concebidas, e o problema é dele, não é nosso, viola o direito comunitário porque está a atribuir um beneficio a uma determinada região. E, por mais vontade política que haja, dizia ele, é impossível manter a situação assim. Se viola, e é verdade que à luz da União Europeia pode violar, quem não soube redigir o diploma e prever isso foi o Governo. É defensável junto da Comissão Europeia que o Governo diga: esta região, pelas suas condições, com PIB per capita em média entre 50 a 60 por cento da média nacional, e se calhar na volta dos 30 por cento da média europeia, não pode viver sem isto. E restaria ao governo fazer uma coisa que fez com os transportadores de mercadorias que diz taxativamente que, circulando durante a noite, têm 15 por cento de desconto desde que comprem a via verde, mas para não violar o direito comunitário, estenderam a todos os transportadores europeus. É um indício claro que não querem resolver, que vão criar um problema enorme e, com uma decisão mal tomada, pode vir a ser reconhecido como o coveiro da Beira Interior.

P – Como vê o fim do Pólo de Turismo da Serra da Estrela e a promoção da região ficar concentrada na Turismo do Centro?

R – Nós temos uma experiência muito positiva com a Agência Regional de Promoção do Centro de Portugal, porque neste momento temos as regiões de turismo, ou as entidades como são chamadas, que fazem turismo interno e as agências fazem turismo externo. As agências funcionam bem porque não são politizadas, os privados têm maioria e tomam decisões com base em dados, em resultados, estatísticas, experiência pessoal e profissional. As novas entidades que vão surgir, já não será este ano certamente, vão permitir que os privados tenham a maioria, portanto o que o Governo pretendeu foi transportar a experiência das agências para as novas regiões de turismo. Acho que não se perde nada pelo facto de o Pólo sair, pensamos que estando representados empresários das várias áreas turísticas reconhecidas na região centro, todas as regiões vão ser defendidas e portanto não vai haver privilégios para ninguém.

P – O turismo é um dos sectores essenciais do país, representando mais de 40 por cento de exportações. Acha que a política seguida pelo país tem sido a melhor nesse âmbito ou há aspetos a melhorar?

R – Sou muito crítico em relação a esse aspeto também pelo facto de estar no movimento associativo hoteleiro. Nos 34 países da OCDE, Portugal e Espanha são os que mais dependem do turismo porque são dois países em que o turismo tem dois dígitos tanto no PIB (mais ou menos 10 a 11 por cento) como no emprego, também à volta dos 10 por cento. A Espanha valoriza o turismo e considera-o como um sector estratégico muito importante. Vão-se iniciar dois investimentos brutais, um em Madrid e outro em Barcelona. Em Madrid vai ser a Eurovegas, a Las Vegas europeia, com um conjunto de casinos enorme e hotéis. E Barcelona com o Barcelona World, que também vai ser um conjunto de casinos muito perto de Port Aventura. Espanha é o terceiro maior destino do mundo e quer continuar a ser. Portugal não tem conseguido estimular o turismo através da promoção, que tem de fazer, tem de fazer um trabalho de promoção enorme, que não está a fazer. Não sabemos se saberá fazê-lo neste momento, é certo que foram detetados muitos problemas no país nomeadamente no sul de Portugal, no Algarve mais propriamente, e está-se a tentar dar um apoio para que o Algarve não entre em colapso.

P – O turismo de natureza, resorts integrados e turismo residencial, gastronomia e vinhos, saúde e bem-estar e o touring cultural e paisagístico são cinco dos 10 produtos turísticos estratégicos identificados pelo PENT e em que a nossa região tem oferta variada. O grupo pensa intensificar a aposta neste tipo de mercado?

R – Temos que saber qual é a promoção que está a ser feita, se está a ser feita para os mercados que nos interessam e se está a ser bem direcionada para os novos mercados emergentes. O mercado brasileiro está em crescimento. Nós temos de trabalhar mercados em que há alguma afetividade e ligação cultural, como é o caso de Angola e Brasil, claramente posicionarmo-nos nesses mercados e temos de trabalhar mercados emergentes, como é o russo e aqui o turismo residencial é importante. Os russos estão a investir muito e nós, com esta imposição fiscal que estamos a fazer, quando deveríamos ser um país que aproveitasse aquilo que foi feito em França, em que há uma imposição fiscal enorme sobre o imobiliário a partir de um certo valor, nós também estamos a fazer a mesma coisa. Devíamos aproveitar aquilo que está a ser feito na Europa e fazer precisamente o contrário para atrair mais investimento, até porque precisamos de conseguir escoar muito do imobiliário que temos. Há aqui um trabalho enorme para fazer em termos de mercados, de feiras e de atração de investimento estrangeiro que é muito importante.

P – O que é que falta fazer para percorrer esse caminho e atrair mais pessoas?

R – Falta fazer um investimento enorme na promoção. Portugal precisa de investir e não é gastar dinheiro, é investir bem nos mercados corretos e da forma mais correta também. Não só nos mercados tradicionais – Alemanha, França, Inglaterra –, e ir à procura de gente nos mercados emergentes. Espanha está a fazer workshops na China, também tem o objetivo de ter um milhão de chineses até 2015. Neste momento, não há objetivos para turismo, só foram apresentadas linhas gerais (PENT), a sua versão final só será daqui a um mês, e nessa altura vamos saber quais são os objetivos para os próximos anos. Em 2012 não estamos a trabalhar em cima de objetivos, o Governo tomou posse há mais de um ano, não definiu objetivos para 2012. Nenhum país vive sem esses objetivos e essa é uma indicação muito clara de que estamos a trabalhar em cima do joelho nesta área. Depois todo este atraso na redefinição da estrutura administrativa, dos novos produtos que podem aparecer, porque há novos produtos, há um mercado imenso também no turismo de shopping, de compras, nomeadamente no turismo que está relacionado com os países de expressão portuguesa, e sobretudo numa área que nós já estamos alguns passos à frente de outros concorrentes, que é o turismo médico. Há uma nova diretiva europeia que vai entrar em novembro e que vai permitir que qualquer paciente de um estado-membro possa tratar-se noutro estado, e ser reembolsado no país de origem. Estamos a trabalhar nessa área, já na tentativa de captação de pacientes ou de convalescentes de outros países, que venham aqui e depois sejam reembolsados no país de origem. O H2otel é uma unidade específica concreta para acolher esse tipo de clientes. Estamos a tentar fazer ligações com algumas unidades hospitalares da nossa região, no sentido de criar aqui sinergias que permitam também pensar nisso, mas para os mercados da expressão portuguesa, porque é muito fácil para eles virem à Europa e sentem-se em casa se fizerem uma intervenção cirúrgica em Portugal. Há aqui novos mercados que aparecem. No turismo de sol e de praia houve movimento dentro do mediterrâneo que levou a um abandono dos destinos tradicionais de Portugal e Espanha, para destinos emergentes como foi o caso da Turquia, Marrocos e Tunísia. Isto está a dar uma volta enorme e é preciso ter uma perceção concreta daquilo que está a acontecer e tudo numa lógica de mercado online, que cada vez é maior.

P – O grupo tem em mente avançar com novos projetos?

R – Estamos sempre atentos a oportunidades, ultimamente têm aparecido, ao contrário do que se possa esperar. O setor turístico tem unidades a funcionar muito bem e outras muito mal. Há pessoas que investiram numa área em que não sabiam e que certamente estão vendedoras neste momento. Neste momento estamos mais focalizados para Lisboa e Porto…

P – Olhando para os projetos em Espanha, até que ponto poderia fazer sentido alguém voltar a pensar num assunto como o casino da Serra?

R – Ainda há pouco tempo referi que era necessário repensar esse projeto. Para nós era muito importante, fosse feito na Covilhã ou na região, tendo em consideração o destino em que nós estamos, a possibilidade de abrir essa concessão ao mercado, sendo que o concessionário depois é que decide o local, na altura era o concelho da Covilhã. Temos o exemplo de Chaves, que ao contrário do que se poderia imaginar, não tem sido penalizador para a sociedade flaviense, e tem resultados positivos para aquela região. Um casino “q.b.” adaptado à região, mas que atrai tanto espanhóis como muitos chineses, que vivem em Portugal, que são grandes jogadores, viciados no jogo, e isso acontece em Chaves. Eu acho que é um projeto fundamental e um casino era uma forma de tornar esta região mais atrativa ao turismo.

P – Há margem para sermos otimistas na região?

R – Numa avaliação macro acho que a rutura entre a sociedade civil e o Governo é uma marca indelével neste momento. Não acredito que o Governo se mantenha nesta situação de rutura social clara durante muito mais tempo. Este foi um favor que o Presidente da República fez ao partido maioritário no Governo, por uma questão de aproximação sentimental, não encaro isso de outra maneira nem posso ter uma avaliação diferente desta. Toda a gente estava à espera que, com bom senso, Cavaco Silva dissesse “vou pôr aqui uma pessoa isenta como primeiro-ministro e que escolha pessoas isentas ao seu lado, e que permita que os políticos se renovem e que apareçam daqui a três anos com um ar renovado e com novas caras”. Ao não fazer isto, está a protelar aqui uma situação que não vai ser peixe nem carne, não vai ser nada, e vamos andar aqui a mastigar uma situação claramente má, sem sentido.

P – Como vê o futuro?

R – Nós não podemos transportar os hotéis para fora da região, nem queremos, mas há muitos empresários que vão transportar negócios, precisamente porque têm mais mercado no litoral. Vou dar o exemplo do António Ezequiel, que é o maior distribuidor de produtos alimentares da região, e que está a pensar sair daqui. Só no mês de agosto pagou quase 5 mil euros de portagens, o que é incomportável. Por exemplo, as fábricas Lusitânia em Alcains, que têm a famosa Branca de Neve, já disseram ao ministro da Economia que se calhar, ao fim de, salvo erro 60 anos, vai ter de abandonar a região. Quando acontece este estado de coisas, há uma deslocalização de negócios para o litoral e é isso que vai ser feito, a par da desertificação humana, que a nível pessoal tem sido clara, e é lamentável que assim seja. Está a contribuir-se, com estas políticas, para uma maior divergência inter-regional, fugindo ao que a Europa quer, que é o espírito de convergência e maior crescimento inter-regiões.

«A probabilidade de o Hotel de Turismo da Guarda voltar a abrir não é grande»

P – Confirma que o grupo esteve interessado na aquisição do Hotel Turismo da Guarda?

R – Nós tivemos interesse, mas a partir do momento em que caiu o programa de apoio, que era o Siftur, deixou de ter interesse, pois era impossível fazer esse investimento. Penso que as decisões demoraram muito tempo e as prorrogações do Siftur foram sendo solicitadas e chegou a um ponto em que isso não foi mais possível, até porque os quadros comunitários ultrapassam-se e não se pode entrar num quadro que já está a acabar com um projeto que vai ultrapassar claramente um ano e meio após o encerramento do quadro. O proprietário daquela unidade neste momento é o Turismo de Portugal. Nós demos algum apoio nesta fase, ainda no anterior Governo, quando se pretendeu avançar com o projeto para um Hotel-escola, em que a vertente seria o turismo de saúde e também os spas. A nossa experiência nessa área levou a que a Escola de Lausanne viesse falar connosco e num trabalho de colaboração, para a montagem da escola e da formação que poderíamos dar aos alunos e também no acolhimento dos alunos em estágios curriculares e outro tipo de estágios. Mas sobretudo na conceção, no layout, e também alguma ligação a marcas que já trabalharam connosco nessa área. Nós demos o nosso contributo e entretanto o Governo decidiu estancar esse processo e não sabemos o que vai acontecer. É certo que é muito mau para a cidade da Guarda, não só o impacto de degradação que neste momento já é visível no edifício, mas também o facto de estar uma unidade naquele local estratégico sem funcionar.

P – Como viu o desenrolar do processo de venda da unidade e o facto de agora estar encerrado há cerca de dois anos?

R – Eu acho que nenhum privado investiria, já naquele momento, sem um projeto que de alguma forma permitisse ter algum apoio financeiro. Neste momento é impossível face às circunstâncias, alguém viabilizar aquilo sem um apoio financeiro, mas acredito que uma candidatura QREN, que é possível fazer inclusivamente face ao valor patrimonial do edifício, permite ultrapassar isso.

P – Acha que faz falta à cidade e à região?

R – Neste momento, em nosso entender, com a taxa de ocupação média que temos nos dois hotéis da Guarda, temos de ter consciência que a oferta está equilibrada. O Hotel-escola também não vinha desequilibrar a oferta, porque estamos a falar de um Hotel com poucos quartos. Penso que um eventual investidor que queira que façam uma análise da procura ao mercado e à situação que existe neste momento no mercado, a situação real económica e social da Guarda e também este custo de contexto associado às portagens e tudo isso, que é pesado, penso que um estudo chega à conclusão facilmente que é inviável. Não tem viabilidade económico-financeira avançar para uma unidade e para o investimento que tem de ser feito lá, mesmo com algum apoio do QREN.

P – É pouco provável que volte a reabrir como hotel?

R – A probabilidade de abrir não é grande, de qualquer forma quem tem de ser questionado é o Turismo de Portugal. Não podemos ter este edifício desta forma, abandonado, com este aspeto. Tomem uma decisão rapidamente sobre qual o destino a dar ao edifício. Penso que também deve ser a autarquia a pressionar, no sentido de que toda aquela zona tenha qualidade e não tenha essa “mancha”.

«Este Governo pode vir a ser reconhecido
        como o coveiro da Beira Interior»

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