A Câmara da Guarda vai exigir que o Ministério da Economia, a Direcção Geral de Energia e a EDP aumentem a quota do concelho e do distrito em termos de produção de energia eólica de forma a viabilizar os investimentos anunciados para o município. Esta posição foi aprovada por unanimidade na última reunião do executivo e resulta da constatação de que os projectos programados para as zonas altas do concelho não são rentáveis enquanto a produção máxima atribuída permanecer nos 39 MW. Só um dos grupos promotores, formado pela guardense Energie Estrela e a Generg, necessita de pelo menos 120 MW, a potência total de três parques eólicos previstos.
«Nada feito se as entidades responsáveis não alterarem a quota de produção de energia eólica do distrito», avisa Paulo Nabais, director executivo da Energie Estrela, uma opinião partilhada pelo vice-presidente da Câmara da Guarda, para quem a parcela atribuída ao distrito «inviabiliza qualquer investimento, já que não é rentável para os investidores avançarem». Em causa estão iniciativas orçadas em perto de meia centena de milhões de euros e centenas de postos de trabalho para os próximos 30 anos (tempo de duração estimado dos parques) nos aproveitamentos eólicos de Mosqueiros (Fernão Joanes/Seixo Amarelo), João Antão (sítio do Coito), Barrocal (por detrás do IPG), Trancoso e Sabugal. Mas o negócio do vento implicará ainda contrapartidas energéticas e financeiras para as Câmaras, as Juntas de Freguesia, em função da energia produzida, e os proprietários dos terrenos. No caso da Guarda, foram apresentados até ao momento sete projectos à autarquia, que envolvem empresas e consórcios nacionais e estrangeiros, sobretudo espanhóis, que consideram o concelho um local «interessante» para a produção de energia eólica. «Seria uma receita importante, nomeadamente para as Juntas de Freguesia, que podem rentabilizar zonas que não o são de outra forma, caso dos baldios e locais ermos. Há também todo um fluxo social, económico e financeiro que advém de um investimento destes», refere Álvaro Guerreiro, adiantando ser esta uma «boa forma de financiamento» dos municípios, cada vez mais obrigados a diversificar actividades e a encontrar novas formas de financiamento.
Contributos chorudos
«Este distrito e concelho estão vocacionados naturalmente para parques de energia eólica, porque temos uma boa medida de vento definida nas torres que já estão a medir de há uns anos a esta parte e que dão a certeza de um bom funcionamento de parques de energia eólica», garante Paulo Nabais. No entanto, o seu optimismo só é travado pelo problema «complicado» da rede eléctrica nacional não estar estruturada para poder assumir a energia que se poderá produzir no distrito, para além da reduzida quota atribuída. Mas, tanto num caso como noutro, a sua empresa já adiantou propostas e soluções. No primeiro caso, a Generg – formada por investidores como as fundações Calouste Gulbenkian, Oriente, Luso-Americana, entre outros – disponibilizou-se a financiar esse reforço das estruturas. «O objectivo é tornar mais rápida a montagem destes parques nesta zona que vão potenciar um investimento da ordem dos 24 milhões de euros nos próximos dois anos e só para o concelho da Guarda», sublinha o responsável. No segundo caso, a questão é mais complicada, uma vez que a sociedade criada entre a Energie Estrela e a Generg solicitou cerca de 370 e 380 MW, mas foi atribuído ao distrito 38/39 MW. «O que é um problema, porque cada dos nossos parques tem capacidade para produzir 40 MW», explica, considerando «viável» a obtenção de mais potência, até porque a própria Generg «está disposta a avançar com o dinheiro necessário para o reforço da linha para poder haver um escoamento da energia, como tal, esta situação passa mais por uma questão política».
Por fim, o último argumento a favor dos aproveitamentos eólicos diz respeito à fixação da população e ao seu contributo para o desenvolvimento regional e local de áreas do interior do país. E Paulo Nabais anuncia desde já que os três projectos da sociedade formada pela Energia Estrela e a Generg irão contribuir anualmente para os cofres da autarquia em cerca de 700 mil euros, enquanto as Juntas de Freguesia em causa poderão receber 1,5 milhões de euros no início da construção dos parques. Já os proprietários de terrenos onde se localizarão os empreendimentos irão receber um valor anual superior a 350 mil euros.
Luis Martins