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Todos os passos vão dar ao Cabeço das Fráguas

Culturguarda estreou visitas encenadas ao antigo santuário de divindades lusitanas datado do séc. V a.C.

As escavações realizadas por Adriano Vasco Rodrigues na década de 50 do século passado inspiraram a Culturguarda para o segundo capítulo dos “Passos à Volta da Memória”, que leva o público à descoberta do Cabeço das Fráguas e da sua laje epigrafada.

A primeira visita aconteceu no passado sábado e atraiu cerca de duas dezenas de pessoas, que, além da subida ao monte, tiveram que enfrentar o calor. Mas os ânimos não esmoreceram, muito por culpa do “professor” e dos seus alunos Amílcar, Manuel e Vítor – as personagens/guias desta romagem teatral ao Cabeço das Fráguas onde o general João de Almeida descobriu, em 1943, a inscrição rupestre que deu fama mitológica ao local. A Laje da Moura, como também é conhecida, foi posteriormente divulgada por Adriano Vasco Rodrigues numa monografia datada de 1956 após uma campanha de escavações organizada pelo investigador. Desta vez, o “professor” lá está a receber os visitantes e a levá-los encosta acima, tempo de contextualizar a época e alguns usos e costumes dos lusitanos. Ficamos a saber, por exemplo, que os nossos antepassados já bebiam cerveja e que a zona era rica em estanho, existindo aqui e ali alguns vestígios de antigas forjas – daí o nome do Cabeço das Fráguas.

O “professor” tem tanto de sabedoria como de espirituosidade e com isso lá vai amenizando o esforço dos caminhantes. Ele é o guia até a comitiva chegar ao acampamento onde os seus alunos – o expedito Amílcar e o recalcitrante Manuel – tomam as rédeas da expedição até ao topo. Também eles sabem umas coisas, como a lenda das ferramentas e da “moira”. São estórias que contribuem para o mito do Cabeço e permitem ao espírito esquecer algum cansaço já perto dos 1.015 de altitude onde se situa o núcleo do santuário. Ali chegados, assiste-se à recriação de um povoado lusitano e encenação de um sacrifício de animais aos deuses protagonizado por Viriato e seus homens na célebre laje antes de enfrentarem os romanos. A inscrição epigrafada em língua lusitana poderia ter surgido assim, ou talvez não… Mas isso é conversa para os entendidos, pois é tempo de regressar à base, pois esta viagem ao passado já terminou.

Américo Rodrigues, diretor da Culturguarda, admite que «o teatro é uma ferramenta para revelar e divulgar o património do concelho, que não serve de nada se não for visto e usado», mas avisa que esta visita encenada «não é uma excursão». Quem visitou pela primeira vez o Cabeço das Fráguas foi António Pinto, natural de Sobral de São Miguel (Covilhã), mas residente em Belmonte. «A grande dificuldade está na subida, mas o resultado vale a pena. No ano passado tentei chegar lá acima e não consegui porque me perdi», declarou.

Onze sessões até 22 de setembro

O Cabeço das Fráguas (Benespera) é um sítio arqueológico sobre um antigo santuário de divindades lusitanas datado do séc. V a.C.. Depois de intrigar curiosos e estudiosos, a laje é hoje famosa no meio científico europeu, sendo similar a outra existente na zona de Cáceres (Espanha). A inscrição conjuga no mesmo texto o alfabeto latino e a chamada língua lusitana, falada na época pré-romana em praticamente todo o Ocidente hispânico, adianta o Museu da Guarda, que tem patente um molde da referida inscrição que descreve a oferenda de animais a diversas divindades. No âmbito dos “Passos à Volta da Memória” estão previstas onze sessões, sempre aos sábados entre as 16h30 e 20 horas, até 22 de setembro. Dado que a visita é limitada a 25 pessoas, os interessados devem adquirir previamente o bilhete no posto de turismo, na Praça Velha, a um preço simbólico de cinco euros. Durante o percurso haverá intervenções teatrais que envolverão personagens históricas e contemporâneas, divinas e humanas, numa encenação de João Neca. A interpretação está a cargo de António Rebelo, David Ribeiro, João Neca, João Pereira, Luís Teixeira, Marco Cruz, Nuno Rebelo e Pedro Sousa, todos atores dos Gambozinos e Peobardos – Grupo de Teatro da Vela.

Luis Martins Viriato e o seu pai, Cúrio, recebem os visitantes no topo do monte

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