Niall Ferguson em Civilização, o Ocidente e os Outros relembra que os colapsos de países ou impérios são, regra geral, “precedidos de desequilíbrios agudos entre as receitas e as despesas, bem como por dificuldades de financiamento da divida pública”.
Entre 2001 e 2011, a dívida federal americana passou de 32% para 66% do PIB. De acordo com projeções do Congressional Budget Office, “a dívida poderá subir acima dos 90% do PIB até 2021 e chegar aos 150% até 2031 e 300% até 2047.” Pior ainda: estes números não incluem os estimados 100 biliões de dólares de passivo não financiado do Medicare e da Segurança Social, nem incluem os défices estaduais, nem o crescente passivo dos regimes de pensões dos funcionários públicos. Tudo somado, a posição fiscal dos EUA era pior do que a da Grécia em 2009, com um rácio dívida/receita de 312%.
Estes números são assustadores. Mas, no reino da estabilidade financeira, o papel da percepção é fundamental. Por várias razões, em 2010, Portugal, a Grécia e a Irlanda perderam a credibilidade perante os investidores em títulos. Até ao momento, esses mesmos investidores continuam a acreditar na capacidade dos EUA se desenvencilharem da alhada em que se meteram. Esta complacência pode até persistir por um período bastante longo – afinal de contas, os EUA não conseguiram converter os brutais défices fiscais dos anos 1980 em superavits nos anos 1990? Para quê preocupar-se agora?
O problema é que esta fé pode desparecer de um momento para o outro. Basta uma má notícia, aparentemente inócua – sei lá, uma descida do rating, declarações de responsáveis chineses, enfim, ninguém sabe –, e, de repente, deixarão de ser apenas meia de dúzia de especialistas a preocuparem-se com a viabilidade da política fiscal americana. Subitamente, essa preocupação poderá alastrar a todos os americanos e, pior ainda, aos investidores em títulos. Digamos que é esta a alteração crucial que desencadeia os colapsos. Como explica Ferguson: “Os “sistemas adaptativos complexos vêem-se em maus lençóis quando a massa crítica dos seus constituintes perde a fé na sua viabilidade”.
O elevado endividamento colocou os EUA numa posição de alto risco e a administração Obama anda a brincar com o fogo ao seguir políticas expansionistas. Niall Ferguson não se tem cansado de alertar para os perigos que isso encerra, tendo inclusive entrado em polémicas violentas com Paul Krugman, o grande guru da esquerda.
Moral da história? O despesismo de Obama não é uma alternativa credível à austeridade europeia, é apenas um caminho alternativo para o precipício.
Por: José Carlos Alexandre