A última sessão da Assembleia Municipal da Guarda, realizada na quarta-feira, ficou marcada pela apresentação de um abaixo-assinado subscrito por moradores do Bairro Nossa Senhora dos Remédios, na cidade, que se sentem afetados pelas obras que ali decorrem há vários meses.
Joaquim Morais, deputado eleito pelo PSD, entregou o documento com 260 assinaturas e queixou-se dos trabalhos decorrerem «há muito tempo e a um ritmo lento», pelo que «não se sabe quando vão acabar». Segundo este morador, a demora na conclusão das obras tem consequências graves no dia-a-dia dos habitantes daquele bairro, como a falta de água, a falta de acesso às garagens e o perigo que representam as valas abertas. «Nenhuma rua está concluída, apesar das obras terem começado há sete meses», lamentou Joaquim Morais. Mas este não foi o único a denunciar o que se passa, também Helena Simão aproveitou o período reservado a intervenções do público para manifestar a sua indignação pelo que se está a passar à sua porta.
Esta moradora fez um retrato exaustivo da situação aos deputados e executivo, que ilustrou com fotografias. «Não há passeios nem sinalização e há valas abertas dias a fio, o que é um perigo para os residentes», referiu, acrescentando que a situação «já atingiu o limite do aceitável» para os residentes. Helena Simão questionou ainda o executivo sobre «a moralidade da Câmara para cobrar a taxa de disponibilidade» da água se esta falta e, quando vem, danifica contadores e eletrodomésticos devido à terra que há nos canos». Após ouvir estas queixas, Joaquim Valente reconheceu que a reclamação dos moradores é «justa» porque «o desenvolvimento da obra e a sua fiscalização não têm sido bem feitas». O edil admitiu a culpa da autarquia e afirmou mesmo que «muitas das desculpas apresentadas pelo empreiteiro e pelos fiscais da Câmara não são já toleráveis».
Joaquim Valente acrescentou que «a obra avançou sem coordenação e fiscalização», que era da responsabilidade dos técnicos da Câmara, e garantiu que o assunto será tratado «internamente». De resto, considerou que «o pior já passou». Segundo disse, estas obras têm como objetivo melhorar as infraestruturas, que estão desatualizadas devido às sucessivas urbanizações.
Rui Quinaz junta-se às críticas
O tema das obras no Bairro Nª Sra. dos Remédios foi recuperado anteontem pelo vereador Rui Quinaz na reunião de Câmara. O social-democrata considerou a situação de «inqualificável e inadmissível», acrescentando que demonstra «falta de respeito pelos moradores» e «falta de cuidado por parte da Câmara em coordenar e acompanhar as obras». O vereador da oposição afirmou que a autarquia «não pode simplesmente ouvir as queixas, tem de intervir, acompanhar os empreiteiros e fazer pressão para que tudo corra melhor». Na sua opinião, este não é caso único e chamou a atenção para outro «flagelo» na Rua Lopo de Carvalho, cujas obras foram interrompidas no Natal para serem retomadas em janeiro. «Porém, a verdade é que já é julho e as obras ainda não estão concluídas», constatou Rui Quinaz, apontando a falta de repavimentação e dos separadores dos passeios.
O social-democrata disse mesmo que «cada vez que se preveem obras na Guarda, a população fica assustada perante as perspetivas. Basta olhar para as obras no centro histórico e no Bairro de São Domingos, em que falha sistematicamente o cumprimento dos prazos e acabam por ser as populações que sofrem com isso». Rui Quinaz apontou mais exemplos como o espaço contíguo ao Vivaci, «um largo bonito que continua a ser um estaleiro», e o «problema» da Praça Velha. «É vergonhoso que o espaço mais digno da cidade tenha ruas com buracos e problemas de iluminação, fachadas em ruínas, tampas no piso, lancis destruídos e floreiras em latas ferrugentas», elencou.
O vereador apontou também o dedo aos edifícios de particulares «abandonados e degradados, que representam problemas de salubridade e higiene», e instou a Câmara a «dialogar com os proprietários para limparem e reabilitarem os seus imóveis». O problema, segundo Rui Quinaz, é «a falta de ação da Câmara», que faz da Guarda «uma cidade abandonada». A resposta veio de Virgílio Bento, que presidiu à reunião na ausência de Joaquim Valente. O vice-presidente desvalorizou as críticas do social-democrata, afirmando que «o PSD faz o seu trabalho, que é criticar por criticar. Às vezes têm razão, mas agora não reconhecem o esforço da Câmara», defendeu-se.
O vereador socialista destacou a «requalificação de bairros e zonas estruturantes» da cidade, como «o “Arco Comercial”», e deu conta das dificuldades da autarquia em fazer mais devido aos cada vez mais apertados critérios estatais para financiamentos. Em relação ao centro histórico, Virgílio Bento sublinhou que foram feitas «obras de requalificação em espaços públicos», reconhecendo que «nem sempre foram acompanhadas por privados». Ainda assim, o vice-presidente destacou que, «pouco a pouco, os particulares vão recuperando os seus edifícios, também atraídos e incentivados pelo investimento público».
Fábio Gomes