1. As obras do Hospital Sousa Martins estão a transformar-se num verdadeiro folhetim. Anunciado como o maior investimento da região, as obras de ampliação e requalificação arrancaram em 2009, depois de 20 anos de discussão pública e promessas.
Quando lançou a construção, em Junho de 2009, José Sócrates recordou a história de 20 anos a «arrastar os pés» e assegurava que antes de se reformar da política a obra estaria concluída. Três anos depois, e com José Sócrates de estudos por Paris – reformado da política ou talvez não -, as obras vão andando. Ou melhor, um dia andam e outro nem por isso. O consórcio construtor exige o pagamento, ameaça parar e aos poucos a conclusão dos trabalhos vai sendo aiada. Os subempreiteiros, esses, esperam e desesperam, e acabam por fechar sem verem a cor do dinheiro.
Mas agora, afinal, já não é apenas uma questão de o Estado cumprir e a ULS Guarda pagar ao consórcio construtor. É também uma questão de definição do investimento no seu todo. A exemplo do que acontece com tantas outras obras públicas, o Governo quer cortar no investimento também no Hospital Sousa Martins. Numa altura em que todos pensavam que o distrito ia ter um novo hospital, quando parte da nova infraestrutura está construída, os responsáveis da ULS recusam-se a explicar publicamente o que andam a fazer, mas já toda a gente percebeu que será amputada à ampliação e requalificação partes que o deixarão mutilado na sua dimensão e capacidade de elevar a qualidade na prestação dos cuidados médicos e impedirão o melhor funcionamento de algumas valências. O discurso ignóbil de que serão feitos ajustamentos para gastar menos dinheiro, mas assegurando a mesma capacidade e qualidade no funcionamento do futuro hospital é falacioso e evidencia que este governo olha o interior com desdém. A verdade é que a segunda fase está posta em causa, ou seja, a requalificação dos pavilhões velhos poderá nem sequer ser feita. Os guardenses passaram anos passivamente à espera de um novo hospital. Foi-lhes assegurado um hospital novo – aproveitando e qualificando o velho – entre a crise, a opção política e a falta de capacidade reivindicativa a maior obra do distrito da Guarda será substituída por uma nova unidade hospitalar. Apenas e só.
2. A proposta para a Carta Hospitalar foi traçada pela Entidade Reguladora da Saúde e veio reabrir uma velha ferida: o encerramento das maternidades na Beira Interior. Os autores do estudo, e seguindo o diapasão habitual, volta a ter o número mínimo de 1.500 nascimentos por ano tido como necessário para garantir a qualidade da assistência prestada. Ora, nenhuma das três maternidades da Beira Interior cumpre essa meta – aliás, neste momento, nenhuma das três chega sequer a metade dos 1.500 partos por ano.
A proposta avança com a concentração das maternidades na Covilhã, mas os autores do estudo salientam que, se for necessário manter uma das unidades, a opção deve ser pela da Guarda. Cabe aos políticos da Guarda (distrito) e à população defenderem mais uma vez um serviço de referência e de grande relevância técnica e afetiva. Os argumentos são muitos, desde ser a maternidade com mais partos (a Guarda tem mais 205 nascimentos que Castelo Branco) até ao fato, identificado no estudo, de abranger uma «população feminina de concelhos classificados com “média baixa” acessibilidade». Reconhece-se, pois, que mesmo não havendo o «número mínimo» de 1.500 partos há muitas e boas razões para manter a maternidade da Guarda. Só encerrará se a inércia e inabilidade política contribuírem para isso. Conhecendo os nossos dirigentes… não nos devemos distrair.
Luis Baptista-Martins
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