Sim, a fotografia que ilustra este texto não é realmente do último filme de António Pedro Vasconcelos e não, não foi um erro de paginação. Os imortais aqui são outros.
Em «Elephant» (na foto), grande vencedor do festival de Cannes deste ano, as vitimas do massacre ocorrido no liceu americano de Columbine surgem novamente como personagens principais de um filme. Depois do humor de «Bowling for Columbine», a reflexão e o tom mais sério com este novo filme de Gus Van Sant, aqui no seu papel de realizador art-indy («Drugstore Cowboy» ou «Gerry»), em oposição aos seus aborrecidos e enjoativos projectos de características mainstream (como o seu mais reconhecido trabalho até hoje «O Bom Rebelde» é bom exemplo).
Nuns curtos 81 minutos, Van Sant faz desfilar a sua visão daquilo que poderá ter sido o dia do massacre, optando pelos silêncios que aqui abafam os gritos que estamos habituados a ouvir em situações destas. Mas, é na tentativa de evitar clichés que o filme encontra as suas principais fraquezas, já que, ainda que à primeira vista tal não seja muito visível, são esses mesmos clichés que vão pontuando todo o filme. O aluno que é maltratado pelos colegas, que toca Beethoven ao piano, que joga jogos violentos, que não consegue ter um relacionamento sexual com ninguém, tudo isso está lá. Ainda que de forma diferente do normal noutros filmes, está lá. No entanto, visualmente, «Elephant» é desarmante, até mesmo hipnotizante, conquistando facilmente qualquer um. Saber se isso é suficiente para validar um filme já é outra questão, que cada um decidirá entre si.
Mas Van Sant, consegue, pela forma como estrutura o filme, dar-lhe uma profundidade a que não se pode ficar indiferente. Com uma câmara parasita, colada às costas das várias personagens, que as acompanha nos seus percursos pela escola, cruzando-se estas com personagens que já antes acompanhámos ou que em breve iremos acompanhar, Van Sant tenta mostrar todos os possíveis percursos deste labirinto. Cruzados e percorridos todos os corredores, dos vários pontos de vista possíveis, a informação ao dispor aumenta, fechando-se o circulo, mas será que se poderá entender o problema no seu todo, somando essas partes? Van Sant tenta pelo menos mostrar as várias peças do puzzle. De forma resumida, «Elephant» é interessante sem ser brilhante, revelando-se um daqueles filmes que nos acompanha, colado ao corpo, por bastante tempo.
Outro imortal, embora tudo indicasse, nos últimos anos, que estivesse definitivamente morto, é o Western, o bom Western. Depois de anos arredado das salas de cinema, o género por excelência do cinema americano volta pelas mãos de alguém que, durante muito tempo, parecia vaguear num deserto sem fim à vista, participando ou realizando projectos que ninguém quis ver. Ainda que esteja a fazer um discreto percurso, quase sem que ninguém dê por ele, «Open Range – A Céu Aberto», de Kevin Costner, é um belíssimo filme, com fabulosas interpretações de Robert Duvall e Annette Bening, para além do próprio Costner, aqui com mais estilo que nunca.
Sem índios nem cowboys, na verdadeira acepção da palavra, este é o melhor Western desde «Imperdoável» de Clint Eastwood (e há quantos anos isso já foi). Socorrendo-se de todas as regras que ao longo dos anos ficaram instituídas como obrigatórias de marcar presença num filme deste género, Costner não faz aqui nada de realmente novo, mas o que faz está tão bem feito que é impossível uma pessoa queixar-se. É uma pena que um filme como «Open Range» esteja a ser assim abandonado e desprezado por grande parte do público cinéfilo. Mas talvez daqui a uns anos lhe seja dado o devido valor. Talvez…
Por: Hugo Sousa
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