Na freguesia de Melo (Gouveia), aldeia natal de Vergílio Ferreira, existe uma construção imponente, de grande interesse histórico e arquitetónico, conhecida como Paço de Melo, que há largos anos está votada ao abandono e a caminho de uma morte lenta. Trata-se um edifício que remonta ao século XIII, quando foi mandado construir por Mem Soares de Melo, tendo servido como residência do Bispo da Guarda, D. José Mendonça Arrais, durante as Invasões Francesas.
O Paço de Melo manteve-se em mãos privadas até há cerca de 10 anos, quando a Câmara de Gouveia decidiu adquirir o edifício. Mas daí para cá, nada mudou, e esta parte importante do património edificado da freguesia continua a degradar-se. O presidente da Junta de Melo revela que «há alguns anos, falou-se na possibilidade de criar ali um pólo da Universidade da Beira Interior ligado ao estudo da obra de Vergílio Ferreira, e nesse âmbito até recebemos a visita do então ministro da cultura, Pedro Roseta». No entanto, «tudo acabou por ficar em águas de bacalhau», sendo que atualmente «o edifício está devoluto, e sem perspetivas para que a situação se altere». Sérgio Ferreira afirma que «é mau para a freguesia ter aquele que é, porventura, o seu principal monumento em ruínas», e enaltece «a importância de se preservar o património», mas reconhece as dificuldades em reabilitar o edifício. «A Junta de Freguesia, só por si, é impotente para fazer seja o que for, e a Câmara, que é a proprietária do imóvel, também não terá orçamento para avançar com grandes obras», conclui.
Da parte da Câmara de Gouveia, o vice-presidente e vereador com o pelouro das obras públicas, Luís Tadeu, diz que «quando a autarquia mudou de presidente, em 2002, o negócio já estava feito e sinalizado, pelo que tivemos de concluir o pagamento, sob pena de perdermos o montante que já tinha sido adiantado».
«No total, esta aquisição custou cerca de 300 mil euros à Câmara, e desde que herdámos o negócio, tentámos rentabilizá-lo», revela. O vereador adianta que «na altura, havia indicações que apontavam no sentido de o Inatur ali querer instalar uma pousada, ficando outra parte destinada a um centro de estudos vergilianos associado à UBI».«No entanto, viemos a verificar que, infelizmente, nada disto correspondia à verdade», afirma.
Posto isto, a autarquia «tomou a iniciativa de fazer um estudo para um possível aproveitamento hoteleiro da infraestrutura, que aliasse a vertente turística à história e ao património, salvaguardando a memória de Vergílio Ferreira», refere, acrescentando que esse estudo foi posteriormente apresentado a potenciais investidores privados, uma vez que a autarquia «não dispõe de verbas nem de know-how na área do turismo para avançar sozinha». «Seria um projeto interessante para o concelho e para Melo, pois reabilitaria uma parte importante do seu património e criaria ao mesmo tempo riqueza e postos de trabalho na freguesia», considera, mas «até agora, não fomos capazes de encontrar interessados». «Há uma grande retração no mercado, e consequentemente é difícil encontrar quem tenha vontade de investir», diz o vice-presidente, assegurando que o município, enquanto detentor do edifício, continuará a fazer «as intervenções possíveis», como reparação de muros e limpeza e corte de mato, para evitar um «total abandono». Quanto ao futuro, Luís Tadeu diz que a autarquia «continua à procura de investidores», mas que perante a conjuntura económica, «resta-nos esperar por melhores dias».
Até que esses dias cheguem, o tempo não dará certamente tréguas ao Paço de Melo, que parece assim condenado a “morrer aos poucos”.
Fábio Gomes
Comentários dos nossos leitores | ||||
---|---|---|---|---|
|
||||
|
||||
|
||||
|
||||
|
||||
|
||||