O passado dia 12 marcou o arranque do apagão da televisão analógica, com o desligamento do emissor de Palmela, que colocou 25 concelhos de Beja, Setúbal e Lisboa a ver televisão digital. No distrito da Guarda esta mudança só vai acontecer a 26 de abril, data da derradeira fase de transição. Mas, quando faltam apenas três meses para este segundo “apagão” analógico, há áreas do distrito com problemas de cobertura que ainda não têm solução à vista.
Em Almeida, o presidente da Câmara António Baptista Ribeiro diz que há aldeias do seu concelho «referenciadas como tendo dificuldades em receber o sinal», nomeadamente Castelo Bom e Cabreira. «Estamos a fazer um esforço para que a cobertura seja a máxima possível, mas que encontra obstáculos no facto das entidades competentes não se mostrarem disponíveis para financiar as soluções possíveis», lamenta o autarca, acrescentando que «essas ajudas passariam por apoiar as pessoas na aquisição do equipamento necessário, ou na instalação de uma antena comunitária, sendo esta última a alternativa mais económica para o município». No Sabugal, António Robalo admite tratar-se de «um concelho difícil mesmo na era analógica, devido ao relevo e às zonas de fronteira». Na transição para o digital, os problemas «poderão acentuar-se», segundo o autarca, num cenário que «será agravado se o emissor do Mosteiro deixar de funcionar».
A zona do vale do Côa «poderá ser a mais afetada» do concelho raiano. O edil já expôs as suas preocupações à PT, tendo a empresa sugerido a adoção da solução DTH (Direct-To-Home), que não agrada por obrigar os munícipes a mudar para uma alternativa mais dispendiosa. Por isso, o município está «à procura da melhor solução», segundo António Robalo. Em Seia, Carlos Camelo revela que «há um conjunto de localidades, situadas no alto concelho, que vão ser afetadas pelo chamado “efeito sombra”». Para o autarca, a alternativa poderá mesmo passar pela solução DHT, que considera «sem sentido», argumentando que «se houve anteriormente fundos comunitários para eliminar fios e antenas da paisagem, não tem nexo ir agora em sentido contrário e invadi-la com parabólicas». O assunto preocupa o edil senense, uma vez que as aldeias em causa ficam longe da sede do concelho e são habitadas por «uma população idosa e de parcos recursos, que tem muitas vezes na televisão o seu único meio de comunicação com o mundo».
Para evitar que isso acabe, o presidente está «a trabalhar com a tutela para ser encontrada uma solução que evite um apagão nessas zonas», salientando que «não se podem privar as populações do acesso à televisão, até porque mesmo não usufruindo, vão continuar a pagar a taxa audiovisual». E conclui que «neste caso, em busca de uma maior qualidade, está a haver uma menor cobertura». Já Gustavo Duarte identifica Mós, Murça e Seixas como as três freguesias do concelho de Vila Nova de Foz Côa que «vão ter problemas», revelando ter agendada uma reunião com a PT para «tentar encontrar uma solução». Segundo a ANACOM, o concelho mais crítico é o de Manteigas, com uma taxa de cobertura de apenas 13 por cento (ver quadro). Esmeraldo Carvalhinho já se queixou por a única solução passar pelo sistema DHT, que vai alterar sobremaneira a paisagem da vila serrana.
Confrontada por O INTERIOR, a ANACOM dá a entender que nada vai ser feito para melhorar estas percentagens, ao afirmar através da sua assessoria de imprensa que «não existem áreas sem cobertura, pois toda a população está coberta, todos recebem televisão digital de forma gratuita, seja por via terrestre ou satélite, o que não acontecia com a televisão analógica, em que 10 por cento da população não via algum canal ou não recebia os canais em condições».
DECO ajuda consumidores
Entretanto, a Associação Portuguesa para a Defesa dos Consumidores (DECO) criou canais próprios para responder a dúvidas ou direcionar queixas relacionadas com a Televisão Digital Terrestre. Todos os consumidores que pretendam reclamar terão de preencher o formulário existente no portal da DECO. As queixas recebidas, depois de analisadas, serão direcionadas para a PT ou ANACOM. Para o esclarecimento de dúvidas, estão disponíveis os números de telefone 808 780 050 (acessível, apenas, de número fixo) ou 218 410 890 (para fixos e telemóveis), e o endereço de correio eletrónico tdt@deco.proteste.pt. A DECO justifica a criação destes canais com o «compromisso na defesa dos interesses dos consumidores portugueses», salientando que «importa conhecer as medidas e ações retificativas que o Regulador propõe para que este processo ocorra de forma pacífica, sem transtorno e com vantagens para os consumidores».
Taxas de cobertura da TDT na região
Aguiar da Beira – 71%
Almeida – 58%
Belmonte – 94%
Celorico da Beira – 91%
Covilhã – 90%
Figueira de Castelo Rodrigo – 91%
Fornos de Algodres – 61%
Fundão – 87%
Gouveia – 83%
Guarda – 92%
Manteigas – 13%
Meda – 84%
Penamacor – 87%
Pinhel – 87%
Sabugal – 67%
Seia – 67%
Trancoso – 90%
Vila Nova de Foz Côa – 94%