A Lusofonia tem as suas vacas sagradas, e admitamos sem rebuço que Luís de Camões é uma delas pois é um dos símbolos maiores da escrita em língua portuguesa!
Desvou escrever sobre Luís Vaz de Camões da forma hermética que o discurso oficial e oficioso da Lusofonia nos habituou, mas sim do verdadeiro “Trinca Fortes”, com as características do português suave de Fernão Mendes Pinto miscigenado com o Fado Tropical de Chico Buarque.
Na linguagem da filosofia, tentou-se criar uma ciência independente: “A Semiótica”! Realmente a primeira proeminente figura da Semiótica mundial foi Luís de Camões, ombreando com o Capitão Gancho e mais recentemente com o antigo ministro da defesa israelita, Moshe Dyan. O comum destes tipos era só terem um olho, ou apropriadamente dizerem, trazer tudo debaixo de olho!
Falando de Luís Vaz de Camões, que tem para aí dez terras a assumirem que nasceu por lá! Lisboa (os lisboetas só ainda não assumiram que o Pinto da Costa nasceu lá, porque ainda é vivo, e inevitavelmente daqui a 500 anos irão, de certeza, fazer-lhe uma estátua, colocarem uma lápide numa casa a dizer: “Aqui presumivelmente nasceu Jorge Nuno de Lima Pinto da Costa, homem sério, vencedor como nenhum outro, incompreendido no seu tempo!”). Santarém, Coimbra, Constança, Porto, Linhares da Beira, outras e, paradoxalmente no meio de todas, Olhão, que presumo por um devaneio humorístico, pois só faltaria terem dito que o homem teria nascido na Avenida da Boavista, no Porto.
O Luís de Camões fascina-me em muitos aspetos! Começando pelo seu fim, admitamos que personifica algum pechisbeckismo dos portugueses. Estar na miséria, e ter um escravo com nome económico, Jau, para mendigar por ele. Tinha uma tença, que revela bem que o problema das reformas é já um problema antigo, que não lhe dava para sobreviver e vai daí arranja um escravo para cobrir alguma zona da cidade. Esta de ter um escravo para pedir esmola é coisa grande!
Outra coisa que me fascina é o facto de ele ter atravessado o Mar da China, com “Os Lusíadas” numa mão no meio da tempestade. Sinceramente era demais, sem um olho e só com um braço, o homem merecia uma toalha da GANT à chegada, um chá e uns scones quentinhos! Como ainda não havia a indústria da petroquímica, nem os derivados do petróleo, não se pensava sequer nos sacos de polietileno, para embrulhar o notável canto IX dos “Lusíadas” que no liceu só um professor de Português, numa de clandestinidade, ousou mencionar. Houve alguém que insistiu presumir que todo esse episódio aconteceu na Costa dos Esqueletos, perto do rio Cunene.
Já vem de longe a falta de apoio aos criadores e à cultura, algo que não acontece com a gente dos mercados, tão apoiados sempre pelo dinheiro subtraído aos contribuintes.
Algo em que o olho é recorrente, ou não estivéssemos a falar de Camões, é vê-lo andar sempre metido com o olho pelas casadas, o que o obrigou a “ser olho por olho, dente por dente”, prevalecendo no caso dele o “olho por olho”!
Deixo o “olho por olho”, pois não faltaria muito para ser acusado de revelar alguma homofobia no que estou a escrever, fruto de leituras enviesadas que alguns fazem destes escritos.
Deixem-me pelo menos finalizar com duas breves citações do discurso do mal-amado Jorge de Sena no 10 de Junho de 1977, na Guarda, sobre Camões e Portugal: «Os portugueses são de um individualismo mórbido e infantil de meninos que nunca se libertaram do peso da mãezinha; e por isso disfarçam a sua insegurança adulta com a máscara da paixão cega, da obediência partidária não menos cega, ou do cinismo mais oportunista, quando se veem confrontados, como é o caso desde Abril de 1974, com a experiência da liberdade».
«Deixem-me todavia recordar-vos que o grande aproveitacionismo de Camões para oportunismos de politicagem moderna não foi iniciado pela reação. Esta, na verdade, e desde sempre, mesmo quando brandindo Camões, sentia que as mãos lhe ardiam. Aqueles oportunismos foram iniciados com o liberalismo romântico e com o positivismo republicano».
Por: Fernando Pereira