Tem-se assistido à agonia completa de um povo enquanto, uns poucos, portadores do cartão partidário, se vão banqueteando com os sempre úteis “livre-trânsito”.
Foi o caso da distribuição dos lugares na administração da Caixa Geral de Depósitos cujos “assentos” foram determinados pelo complemento solidário interpartidário ou pelos “méritos indevidos” noutras congéneres.
Foi e continuará a ser a “entrega”, por truta e meia, de um banco que custou e continuará a custar aos contribuintes portugueses milhões e milhões de euros, sem que a justiça tenha apurado o que quer que fosse; foi a entrega, sem contrapartidas, das posições do Estado nas empresas estratégicas PT e EDP.
Foi o anúncio de um imposto “extra e ordinário” que, por medida de precaução – palavras dos governantes – vai sacar aos já magros orçamentos dos portugueses uma importante fatia que tanta falta irá fazer ao equilíbrio orçamental das famílias portuguesas.
Enquanto os rendimentos do trabalho são fortemente penalizados, os rendimentos do capital continuarão a ser protegidos, isentos e nalguns casos beneficiados pelas “ajudas” dos que nada têm… Um verdadeiro “Robin” dos tempos modernos, só que desta feita, rouba-se aos pobres para dar aos ricos…
Mas, se o que foi anunciado em campanha eleitoral vale o que vale para os partidos do arco da “velha” que, na primeira “investida” se escudam na velha máxima de que a realidade é bem diferente da que se imaginava, como se um programa anunciado, preparado e analisado como o melhor programa que alguma vez umas donzelas “pariram” fosse a panaceia para tudo de mal que nos pudesse vir a acontecer, eis senão que tudo, mas tudo, é feito e (re)pensado à medida e aos desejos dos ditos iluminados… Pelo que se verifica os fusíveis não aguentaram a voltagem… Será?
E, lá vêm, de novo, os “boys”, com novas roupagens, sempre ávidos de poder e sequiosos de amealhar o pecúlio a que se julgam devidos.
Contratam-se “especialistas” para os gabinetes, em número tal que bate todos os recordes de anteriores executivos.
A admissão de especialistas foi dos aspetos mais criticados pelo Tribunal de Contas na primeira e única “Auditoria aos Gabinetes Governamentais”. No relatório de 2007, os governantes eram criticados por recorrerem, «de modo ilimitado e sem justificação ou fundamento expressos, à admissão de pessoal». A auditoria citava «como exemplo, os especialistas», cuja nomeação se traduzia numa «forma de tornear o cumprimento das limitações impostas ao número de pessoal do quadro dos gabinetes governamentais». Além de alertar para o facto de não existir número limite para a contratação e de avisar sobre a ausência de um teto para o vencimento dos especialistas.
Há mesmo um ministério, o da Economia, em que os vencimentos dos nomeados se destacam do restante executivo e cujas nomeações são só cerca de 40 por cento dos especialistas do Governo.
É obra para quem pouco ou nada fez, para além de umas bandeirinhas de Portugal e um aumento astronómico nos transportes públicos.
Mas o aumento desmesurado da carga fiscal nos rendimentos do trabalho e nas pensões é o que se sabe e o que virá a sentir-se nos próximos tempos, que dizer das sucessivas falências de empresas que lançam para o desemprego milhares e milhares de portugueses?
Só pela Guarda, ultimamente, foram três de grande dimensão. A Delphi, a Egitécnica e a ARL!
O panorama é desolador… A que se junta um conjunto de autarquias que atingiram níveis de endividamento de falência técnica e, como tal, incapazes de ajudarem as milhares de famílias carenciadas…
Lembre-se que muito em breve vai iniciar-se um novo ano letivo e, com ele, despesas, essas sim colossais para as famílias…
Quem as ajuda?
O Governo lançou o “Plano de Emergência Social”, uma espécie de caridadezinha do “chá das 5”!
Um plano assente na distribuição assistencialista dos restos… Depois da campanha dos restos dos restaurantes, apoiada por Cavaco Silva, heis-nos perante a distribuição dos restos dos medicamentos em vésperas de fim de validade, do arrendamento excecional de habitações revertidas para a banca pelo incumprimento contratual das famílias, em benefício dos agiotas…Ou seja, o fim de uma democracia assente em direitos de TODOS, substituída pelo acesso dos pobres às migalhas do bodo dos poderosos.
Tudo isto é indigno.
Todos os cidadãos merecem respeito e dignidade, principalmente os que vivem o infortúnio das vicissitudes da vida.
Substituir DIREITOS por esmolas é uma infâmia.
Infâmia e indigno atolarem crianças pobres em creches superlotadas; deixar de fiscalizar, através da ASAE, as cantinas das IPSS’s como se a higiene, a limpeza e o asseio não devessem fazer parte de todos os locais de confeção de alimentos, ou será que desta forma muitos dos produtos que têm o rótulo de “venda proibida” vão continuar a ser “doados” aos amigos e a outras instituições como benesses de favores (in)devidos?
Todo este “plano” serve-se, e é servido, pelo venturoso préstimo das Misericórdias.
Estranha-se, ou talvez não!
Para além da agiotagem que caracteriza as Misericórdias, sabe-se e conhece-se a ligação de algumas dessas instituições à Igreja Católica Apostólica e Romana, com lucros aos milhões.
Pergunta-se onde fica a separação entre o Estado e a Igreja?
Já agora, não foi o próprio presidente das Misericórdias portuguesas, um tal de padre Maia, que disse, em tom de “bom samaritano”, que um Ministério, o da Educação, ao tempo, “negociava” com ele… de joelhos?
A confissão também se faz de joelhos…
A política deste Governo, para quem tinha dúvidas, é só a da proteção dos agiotas e sotainas, vistam eles fato e gravata, com ou sem ar condicionado. Por tudo isso é que, no covil dos lobos, não há ateus!
Por: Jorge Noutel
* Deputado eleito pelo Bloco de Esquerda na Assembleia Municipal da Guarda