«Ninguém tenha dúvidas de que se me dissessem que eu tinha a liberdade de escolher a localização do Data Center no nosso concelho, sendo concomitante com a mudança de uso, é óbvio que não o ia fazer no aeródromo». A garantia foi dada por Carlos Pinto durante uma sessão extraordinária da Assembleia Municipal da Covilhã, realizada na última sexta-feira, em que foi aprovada, com os votos contra do PCP e a abstenção do Bloco de Esquerda, a suspensão do Plano de Urbanização da Grande Covilhã. É assim dada “luz verde” para a viabilização do avultado investimento da PT na zona do aeródromo e que poderá vir a criar mais 250 postos de trabalho do que os 500 inicialmente previstos.
As críticas mais veementes foram feitas pelos eleitos do PCP. Vítor Reis Silva, por exemplo, criticou que a escolha da localização do Data Center da PT tenha surgido com um «anúncio tendo por base a legitimidade democrática», ironizando que «depois de sermos eleitos podemos fazer as burrices todas». O deputado disse concordar com o investimento da PT, mas tem dúvidas de que vá criar «muito emprego», questionando se «a Câmara não tinha a possibilidade de encontrar outra localização». «Se possível deveríamos ter os dois equipamentos», sustentou, justificando o voto desfavorável por serem «contra a localização do Data Center e a consequente desativação» do aeródromo. «Para nós, é uma demonstração de provincianismo e um sinal de falta de respeito», reforçou. Também a sua colega de bancada, Mónica Ramôa, foi bastante crítica com a opção da autarquia, considerando que «o futuro aeródromo da Covilhã é metáfora para aeródromo definitivamente perdido».
António Manuel Pinto, do Bloco de Esquerda, absteve-se porque defendeu que se «pudesse haver alternativas seria melhor», sustentando que «postos de trabalho todos queremos». Quanto aos deputados do PS votaram favoravelmente a suspensão, mas houve divergências nos discursos. Pedro Leitão sublinhou tratar-se de «um sim pequeno porque consideramos que maior trabalho e empenho poderiam ter sido despendidos na procura de uma solução alternativa que conciliasse os interesses da empresa com os da Covilhã, que aspirava a manter o aeródromo. O que mais há no mundo é paisagem e na Covilhã também não falta», assegurou. Já Miguel Nascimento, líder da concelhia do PS, acrescentou que «o sim do PS não tem dimensão, é um sim e ponto final», sendo que «seria uma loucura neste momento haver este esforço concertado para se criarem postos de trabalho e o PS estar contra».
Perante as críticas da oposição, o presidente do município lembrou que «mudar o uso de um terreno em Portugal é muito difícil» e que o Data Center vai ser feito no aeródromo «pelas circunstâncias». «Chegámos a um ponto em que ou era isto para termos possibilidades ou, hoje, não havia investimento», assegurou. Até final de 2012, meados de 2013 «estarão a trabalhar lá em baixo cerca de 500 pessoas» e «até final de 2013 seguramente que teremos 600», anunciou Carlos Pinto, destacando que será abrangido um «naipe transversal de empregos». De resto, adiantou que as instalações do edifício principal, destinado apenas à parte administrativa do Data Center, «vão passar para o dobro, que são cerca de seis mil metros quadrados de escritórios, para acolher mais 250 pessoas do que o previsto», sendo que «grande parte delas vão ser recrutadas» na região.
O edil realçou que a PT viu aprovado há cerca de três semanas um financiamento de «300 milhões de euros do Banco Europeu de Investimento» e «mais de metade é para investir na Covilhã». Sublinhou, por isso, que a empresa está «determinada a fazer da Covilhã um caso exemplar de mostra de novas tecnologias». E sublinhou: «Temos orgulho neste projeto e estamos perante profissionais de grande grau de exigência», defendendo que a Câmara se tem «multiplicado para dar uma nota de que não há amadorismos por cá». De acordo com o autarca, a cedência dos 10 hectares de terreno deverá ser protocolada a 20 de outubro: «Ganhámos o investimento, tivemos de sacrificar a questão do aeródromo e temos agora um desafio sobre o qual estamos a trabalhar intensamente com ideias e com determinação para o levar a cabo dentro do mais curto espaço de tempo», referindo-se ao projeto de construção do novo aeródromo na zona de Terlamonte.
Covilhã “pisca o olho” ao sector automóvel
Durante a Assembleia Municipal, Carlos Pinto voltou a surpreender tudo e todos a anunciar que, inserido numa estratégia de «captação de investimentos», irá a Bruxelas em setembro com o vereador Pedro Farromba para negociar a instalação na Covilhã de uma unidade de fabrico de automóveis. «Vamos falar com o responsável pelo investimento na Europa de um dos principais grupos automóveis e que está profundamente empenhado no nosso país. Para lá chegarmos, há seis meses que andamos a tentar, a fazer chegar a imagem da Covilhã para esse efeito. Não prometo nada. Só estou a dizer que vamos reunir», salientou.
Ricardo Cordeiro