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A encruzilhada da Guarda

Editorial

1. Em entrevista a publicar na próxima semana, e de que hoje destacamos alguns aspetos, Júlio Sarmento admite estar disponível para se candidatar à Câmara da Guarda pelo PSD. O mais “antigo” presidente de câmara do distrito está no seu último mandato à frente da Câmara de Trancoso e, depois de «deixar o concelho com infraestruturas que lhe permitirão enfrentar o futuro com optimismo», pretende abandonar a política e dedicar-se à vida empresarial, mas concede que a eventualidade de poder liderar a autarquia da Guarda o poderia levar a adiar a sua decisão de se retirar da política. Porém, há uma condição sine qua non para poder ponderar essa hipótese: teria de haver um compromisso formal com o Governo para resgatar a Guarda do buraco em que se encontra. Ou seja, Sarmento releva que o estado a que a Guarda chegou é de tal forma gravoso para o futuro do concelho (e em consequência para toda a região de que a Guarda devia ser motor e cujo distrito perdeu 20 mil pessoas nos últimos 10 anos) e está numa situação financeira de tal forma deplorável que seria necessário um contrato claro e inequívoco com o Governo para desencravar o concelho («um plano “Marshall” de apoio, agilização e colaboração no investimento e criação de empresas e de emprego, que não necessariamente de apoio financeiro»). E fala de forma categórica de resgate da Guarda, pois as circunstâncias em que a cidade foi desaguando são tão negras que «será impossível alguém no seu perfeito juízo acreditar que a Guarda pode sair desta situação sem uma grande ajuda» e, por isso, sem haver um contrato claro com o Governo não estará disponível. Júlio Sarmento sabe desde logo que para haver um compromisso como o que reivindica terá de ser entre Passos Coelho e o futuro candidato do PSD à Câmara guardense, que tem que ser uma pessoa «com experiência e bem relacionado». E recorda que Joaquim Valente foi eleito no pressuposto de boas relações de amizade com o anterior primeiro-ministro, mas que nunca resultaram num compromisso formal, inequívoco e suportado num plano de apoio – por isso «a Guarda não ganhou nada com essa relação» (o hospital aconteceu como aconteceram em muitas outras cidades no mesmo período).

2. Efetivamente, o estado financeiro da autarquia da sede do distrito é grave, pese embora só agora se reconheça essa situação com a necessidade de avançar com um estudo para o seu «saneamento» (que não é saneamento nenhum, pois sanear implica limpar, reduzir ou eliminar dívida, e aqui o que se pretende é apenas mandar para o futuro a dívida presente, e a isso chama-se reestruturação da dívida). Mas mais grave do que as dificuldades financeiras é a falta de projeto, de ideias, de capacidade de mudar o paradigma e fomentar o desenvolvimento.

Na reestruturação da dívida que a Câmara da Guarda pretende fazer, passando de curto e médio prazo para longo prazo o seu endividamento, há um aspeto positivo, que cabe salientar, que é a possibilidade de libertar a autarquia de compromissos imediatos, do seu sufoco, e poder ter disponibilidade para “ir ao QREN”, isto é, poder ter capacidade financeira para candidatar ao QREN um conjunto de investimentos necessários e que poderão contribuir para animar a depauperada economia local.

3. Num contexto de Beira Interior, o ensino superior é essencial para a promoção do desenvolvimento regional a todos os níveis. E é-o nomeadamente na sua capacidade de atrair novos alunos cada ano letivo. Assim, é impressionante ver que o Politécnico de Castelo Branco continua a evidenciar um dinamismo e agilização surpreendente e apresenta “em pauta” 1.737 novas vagas, enquanto a UBI tem 1.295 e o IPG apenas 794. Ou seja, o IPCB tem quase mais mil vagas do que o Politécnico da Guarda… E se é certo que uma coisa são as vagas abertas e outra bem distinta é a sua ocupação, a verdade é que a dimensão e crescimento contínuo do IPCB e da UBI nada têm a ver com a delicada realidade do IPG.

Luis Baptista-Martins

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