O presidente da Turismo Serra da Estrela (TSE) avisa que a introdução de portagens na A23 e A25 – que deverá acontecer já em setembro – colocará em risco 111,5 milhões de euros de investimentos em curso na região.
Numa carta enviada ao primeiro-ministro, e que aquele organismo divulgou na semana passada, Jorge Patrão considera que a competitividade «entretanto ganha» pela Serra da Estrela pode ser seriamente afetada. «Um dos principais fatores de melhoria do atrativo turístico foi a criação de novos acessos rodoviários às grandes áreas demográficas do litoral; a A23 para Lisboa e a A25 para o Porto», lembra, sublinhando que graças a estas auto-estradas, na última década, «a região conseguiu passar de cerca de 150 mil dormidas legalizadas para mais de 600 mil atualmente». Por isso, o responsável apela para que «sejam bem equacionadas as consequências» da cobrança de portagens nestas vias, até porque promotores privados projetaram os seus investimentos «sem o peso de custos das portagens e cuja alternativa praticamente não existe». Jorge Patrão refere-se à construção de unidades hoteleiras de saúde e bem-estar e a projetos ligados à enologia, história, golfe e animação turística a concretizar na Guarda, Covilhã, Seia, Gouveia, Fornos de Algodres, Sabugal, Belmonte, Manteigas, Penamacor e Trancoso.
«Na AICEP e no Turismo de Portugal negoceiam-se também dois grandes projetos de animação turística com investimento estrangeiro», adianta, alertando que «a grande distância a esses principais polos de clientes potenciais [a área metropolitana de Lisboa fica a 300 quilómetros e a do Porto a mais de 200] vai significar um peso demasiado grande na hora da escolha da região turística e deste interior». O responsável diz estar «ciente da grave situação financeira nacional», mas defende que «a tarefa enorme que o Governo tem pela frente não deve apagar as políticas de valorização do território que implicam por vezes uma discriminação positiva». Entretanto, depois do porta-voz da Comissão de Utentes Contra as Portagens na A25, A23 e A24, Francisco Almeida, ter invocado a possibilidade dos automobilistas passarem sem pagar como forma de protesto contra as portagens, é Luís Garra, presidente da União dos Sindicatos de Castelo Branco, quem apela à desobediência civil.
Na sua opinião, trata-se de «uma medida grave e dramática para a economia regional, para o emprego e a estabilidade social», pelo que «não está fora dos horizontes da União de Sindicatos, se a medida avançar, um apelo muito forte à desobediência civil, porque as medidas imorais e ilegítimas só podem ser combatidas com atitudes muito fortes e corajosas». Na prática, seria um apelo «para não pagar, pura e simplesmente não pagar», especificou. A garantia de que a auto-estrada da Beira Interior continua gratuita é uma das propostas que a União de Sindicatos vai apresentar em breve aos partidos com assento parlamentar, anunciou Luís Garra na passada sexta-feira. Tudo indica que o Governo se prepara para iniciar em setembro a cobrança de portagens nas quatro auto-estradas onde ainda vigora o regime SCUT (sem custos para o utilizador), a saber a A22 (Via do Infante), A23 (Beira Interior), A24 (Interior Norte) e A25 (Beiras Litoral e Alta). Para tal, será necessário aprovar e publicar em “Diário da República” o decreto-lei que introduz as novas portagens, os preços e o respetivo regime de isenções e descontos. O que deverá acontecer até ao final deste mês.
Luis Martins
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