A Águas do Zêzere e Côa (AdZC) está em falência técnica. De acordo com as conclusões de um estudo sobre as condições económicas e de sustentabilidade do setor da água em Portugal, divulgadas na terça-feira pelo Jornal Público, a AdZC é uma das entidades multimunicipais do grupo Águas de Portugal (AdP) que se encontra sem capitais suficientes para assegurar o cumprimento das dívidas e responsabilidades.
O estudo foi elaborado pela Associação Portuguesa das Empresas Portuguesas para o Setor do Ambiente (AEPSA) e não revela um cenário animador para a AdP, a quem os municípios e outros clientes já devem 389, 3 milhões de euros. Apesar de Loures, Lisboa e Chaves ocuparem os lugares cimeiros da lista de devedores, é no interior do país que a situação se revela mais preocupante, já que há pelo menos dois sistemas multimunicipais de abastecimento de água e saneamento que se encontram em falência técnica: a AdZC e a Águas de Trás-os-Montes e Alto Douro.
Os investigadores concluíram que as dificuldades acentuam-se sobretudo em zonas de menor densidade populacional, onde o sistema de abastecimento de água e saneamento é feito através de uma entidade multimunicipal, que tem como principais acionistas as autarquias. É o caso da AdZC que é dona de uma situação financeira conturbada e que se agravou com a “guerra” que ainda mantém com os próprios acionistas. A discórdia teve início no ano passado depois de conhecidos os aumentos de 10 por cento nas faturas da água e de 15 nas de saneamento, valores que as autarquias dizem não conseguir suportar. Além disso, foram vários os autarcas que, na altura, afirmaram que existiam outros pressupostos contratuais que não estavam a ser cumpridos, um facto que a AdZC negou a O INTERIOR na semana passada. Esgotadas as tentativas de resolução – e até mesmo depois de uma reunião com a ex-ministra do ambiente Dulce Pássaro – os acionistas decidiram avançar com uma ação em tribunal contra a empresa para que os contratos assinados sejam revistos. Este sistema multimunicipal existe desde 2000 e serve os municípios de Almeida, Aguiar da Beira, Belmonte, Celorico da Beira, Figueira de Castelo Rodrigo, Fundão, Guarda, Manteigas, Mêda, Penamacor, Pinhel, Sabugal, Fornos de Algodres, Gouveia, Oliveira do Hospital e Seia.
Segundo a AEPSA, o agravar das condições económicas do setor da água, em Portugal, pode mesmo comprometer os investimentos já programados, nomeadamente na área dos serviços de saneamento, se não for encontrada uma solução.