Aprumados, enfeitados ou carregados, os burros voltaram a ser o centro das atenções na aldeia de Carpinteiro, no concelho da Guarda, no passado domingo.
Inspirados pela alcunha que uma lengalenga atribui aos habitantes desta pequena anexa de Casal de Cinza, os dirigentes da Associação Cultural e de Melhoramentos local têm vindo a organizar desde 2006 uma concentração destes quadrúpedes em vias de extinção. Alega o dito popular que «para burros os de Carpinteiro», mas no domingo houve quem garantisse que «eram mais os que vieram de fora» para ver uma festa comunitária em torno de um animal que é agora de estimação. Longe vão os tempos de trabalhos esforçados nos campos, por isso, os burros saíram à rua em cortejo a lembrar a sua utilidade de antanho. As carroças ajudaram ao quadro permitindo recriar uma pequena horta, uma mesa bem guarnecida ou transportar meninas e meninos. Outra participante resolveu vestir-se de agricultor, daqueles que iam à cidade vender os seus produtos e regressavam a casa com um grão na asa. A crise financeira também não foi esquecida e tomou lugar numa carroça onde o FMI, de pasta na mão, partilhou o transporte com um português a pedir esmola.
Mas o rei da festa, aquele que mais atenções atraiu, sobretudo dos mais pequenos, foi uma cria com apenas um mês de idade. O seu dono estava disposto a vender mãe e filho pela módica quantia de «300 contos» [1.500 euros]. Desconhece-se se o negócio se concretizou, mas Vital Gomes estava confiante que os dois animais não voltariam a casa, em Alverca da Beira. Este ano, 15 burros participaram no cortejo alegórico, a que se seguiu uma exibição de cavalos. Para João Paulo Santos, presidente da direção da Associação Cultural e de Melhoramentos de Carpinteiro, a festa foi um êxito para o qual muito contribuíram «os burros que vieram das redondeza, sobretudo aqui da freguesia».
