O futuro não parecia muito risonho, com Cavaco e Coelho, respetivamente, a presidente e primeiro-ministro e com Nobre a presidente da assembleia da República (usemos parcimoniosamente as maiúsculas). O futuro continua a não parecer muito risonho mas pelo menos de Nobre estamos quase livres. Não tarda nada que venha a concluir ser mais necessário na AMI do que no parlamento e regresse a um lugar de onde nunca deveria ter saído. Não teremos tanta sorte com Cavaco ou Coelho, até porque não há nenhum lugar em especial onde sejam especialmente desejados ou necessários, nem sequer naquele para que foram eleitos, mas há alguma esperança. O mal que podem fazer ao país está delimitado no acordo com a troika e têm a vantagem, pelo menos Coelho, de não haver grandes promessas a quebrar a não ser, e não foi aos eleitores, a de sanear as contas públicas.
Onde parece haver esperança é no facto de ser óbvio hoje que somos mal governados há muito tempo e de ser óbvio também que a oposição tem feito mal o seu trabalho. Os sucessivos governos têm gasto mais do que podem e as oposições têm exigido ainda mais despesa. Sempre que se fala em contenção orçamental saltam logo à luz do dia as brigadas dos direitos adquiridos, ancoradas na oposição, e sempre que se propõem sacrifícios há logo quem diga que sim, mas para os outros. Mas agora parece evidente para todos que há que arrepiar caminho e encontrar outras soluções, sob pena de uma catástrofe geral. Como alguém disse, temos a vantagem de ver nos acontecimentos na Grécia os nossos possíveis futuros e a forma de evitar o pior.
A recusa dos sacrifícios vai continuar, mesmo assim, e vão voltar a ouvir-se slogans como “os ricos que paguem a crise”- como se houvesse ricos suficientes e a sua riqueza chegasse para tanta crise. Vai dizer-se também que é indispensável renegociar a dívida, e é verdade, e haverá quem sugira que devemos sair do Euro e fazer regressar o velho Escudo e a sua desvalorização deslizante, o que parece menos certo.
Outra conclusão que se vai tornando cada vez mais certa é que o Euro não pode ser algo que sirva sobretudo para os alemães venderem muitos carros com grande lucro. Dizia Merkel hoje que dois terços das exportações alemãs se destinam ao mercado europeu, pelo que a Alemanha tem grande interesse em salvar as economias europeias em perigo. Diz-se também, e aqui erradamente, que Portugal e a Grécia pouco riscam porque o seu PIB combinado não representa mais de cinco por cento do PIB da UE. O problema é que as suas dívidas (pública e privada), combinadas, valem várias vezes esse valor e isso assusta a banca alemã.
Isto é: batemos no fundo, os nossos políticos pouco mal nos podem fazer e a Alemanha está assustada. A partir daqui a coisa só pode correr bem.
Sugestões (imperdíveis) para o feriado: A visita guiada e teatralizada à Sé da Guarda, com uma encenação notável e divertidíssima da Antónia Terrinha, um texto muito bom do Pedro Dias de Almeida e interpretações estelares; a exposição da Sandra Campos (minha prima) no Paço da Cultura: aposto que o leitor, como eu fiz, vai atardar-se em frente a boa parte dos quadros, sobretudo os mais recentes, e vai voltar atrás para os rever.
Por: António Ferreira