A tarde esmorece na cidade. São quase 19 horas e Arlindo Monteiro Aio ainda só fez dois serviços em todo o dia. Na estação da Guarda, junto à praça de táxis onde trabalha desde 1968, relembra o movimento de outrora: «Nessa altura, fazíamos mais quilómetros. Agora, os comboios já não trazem ninguém, vêm vazios. Eu noto que a crise é mundial e agora ainda nos apresentam uma despesa que era evitável», lamenta. O taxista refere-se ao custo dos exames psicológicos que terá de fazer até janeiro, juntamente com todos os colegas que tenham carta de condução emitida antes de 1998.
O decreto-lei entrou em vigor há um ano e obriga grande parte dos taxistas a submeterem-se a exames psicológicos. A Associação Nacional dos Transportadores Rodoviários em Automóveis Ligeiros (ANTRAL) tentou, sem sucesso, travar o “avanço” da medida ao solicitar um parecer sobre a constitucionalidade da lei. No início da semana passada, a decisão do Provedor de Justiça afastou as dúvidas e, mesmo contra a opinião dos sindicatos, o decreto irá avançar. Arlindo Monteiro Aio não se mostra preocupado com a possibilidade de chumbar no exame, o seu descontentamento reside sobretudo no valor que terá de pagar: «Há cada vez menos trabalho e mais crise, e dizem por aí que isto ainda nos vai custar uns 60 euros. É mais uma despesa que nos obrigam a ter», critica. Coleciona quilómetros pela cidade há 43 anos. Na praça da Estação é dos mais antigos e, por isso, não hesita em defender-se a si e aos restantes colegas: «Já não somos nenhumas crianças, sabemos respeitar os clientes, nunca dei conta que alguém faltasse ao respeito a um passageiro», garante.
Nuno Monteiro, 53 anos, é outro taxista que não poderá escapar aos exames psicológicos. Trabalha na praça de táxis da Estação desde 1978. «Esta é mais uma forma de nos tirarem dinheiro», lamenta. «São provavelmente testes para verem se o motorista é agressivo, se trata bem o cliente e para avaliarem a nossa maneira de ser», considera. Não se revolta contra a necessidade do exame, mas mostra-se preocupado com o valor que terá de desembolsar: «Dizem que são 60 euros, mas eu desconfio que deverá ser mais do que isso, é provável que, com IVA, chegue aos 80 e isso é uma quantia significativa para os gastos que já temos», critica. Para os taxistas da praça, o vaivém de gente, entre as chegadas e partidas de comboios, está longe de representar o número de clientes de antigamente. «Somos oito e já não há aqui serviço para tantos», reconhece Nuno Monteiro. Na memória guarda os dias em que «os emigrantes chegavam e havia muito mais trabalho. Hoje é rara a família que não tenha pelo menos dois carros e vem sempre alguém esperar as pessoas à Estação. É raro fazermos serviços», refere ainda. Na voz de Arlindo Monteiro Aio correm as mesmas lamentações, mas no final o que fica é a resignação: «Não há serviço e agora mais uma despesa. É complicado. Mas nós estamos cá para tudo», afirma.
Catarina Pinto