Passado que está o ato eleitoral, impõe-se uma breve reflexão sobre os últimos anos da governação socialista e um breve olhar para o futuro, na área do ensino superior.
Se é verdade que Mariano Gago empreendeu um vasto conjunto de reformas legislativas, umas positivas, outras nem tanto, a verdade é que, o Instituto Politécnico da Guarda (IPG) não tem do governo socialista qualquer razão para o recordar: o esquecimento e o desinteresse pelo IPG constituem o legado do anterior governo. O único momento de atenção que recebemos refletiu-se na dotação de 150.000 euros inscritos no orçamento de PIDDAC do corrente ano para os Serviços de Ação Social, verba que contudo se encontra bloqueada e em sérios riscos de ser definitivamente perdida. Surpresa total foi o programa do PS para as eleições acabadas de realizar: o Contrato de Confiança que constituiu uma bandeira política nos últimos dois anos, desapareceu sem deixar qualquer rasto, transformando-se, também ele, num contrato de “desconfiança”.
Apreciado por outro lado o programa do partido vencedor das eleições, não deixamos de ficar igualmente preocupados. De facto, o PSD parece querer mexer em tudo: regime jurídico, estatutos de carreira, rede de oferta, etc. Se é verdade que em qualquer das áreas referidas, é absolutamente urgente fazer alterações, não menos verdade é que nesta fase o que menos precisamos é de uma nova “revolução” legislativa que nos obrigue a recomeçar tudo de novo. Por explicar fica também o sentido da expressão “especializando instituições com menor massa crítica a nível nacional”: se o objectivo da frase é o de “especializar” as instituições mais pequenas do interior do país, então o PSD parece ignorar o papel destas instituições no desenvolvimento das regiões e o seu contributo para as manter vivas. A especialização pressupõe, massa crítica e procura nessa(s) área(s) de especialização. Esquece-se que no interior do país, não há população que sustente a especialização das instituições aqui sedeadas, e que muitos jovens e famílias aqui residentes têm um baixo grau de mobilidade (associado ao baixo nível socioeconómico), o que, em termos reais, significaria que grande parte da população perderia, pelo contrário, o acesso ao ensino superior. A especialização das instituições no interior do país, só fará sentido se se restringir a oferta formativa dessas áreas no litoral e nos grandes centros urbanos. Alguém acredita que se irão encerrar estabelecimentos de ensino ou cursos no litoral ou nas grandes cidades, para permitir o desenvolvimento de uma instituição “especializada” situada no interior? Muitas são as vozes (a maioria em surdina, e poucos com a coragem de o dizerem abertamente) que “clamam” por uma fusão do IPG com a UBI. Tivesse havido, aquando da criação das instituições, visão estratégica e menos interesses pessoais e locais, poderíamos ter hoje uma verdadeira Universidade da Beira Interior, onde as cidades da Guarda e Castelo Branco constituíssem os tais polos de “especialização”. Atirar essa responsabilidade para cima dos atuais dirigentes ou colocar esse assunto na ordem do dia, é desconhecer o funcionamento das instituições, as suas raízes, a sua história, os seus problemas e os seus anseios. Há decisões que só o poder político central hoje em dia pode tomar. Entre o IPG e a UBI, existe hoje um profícuo espírito e de colaboração mútua, que esperamos no futuro possa ser incrementado e valorizado.
Uma palavra final para elogiar e agradecer o posicionamento que, dentro das suas limitações, foi assumido nos últimos dois anos pelo ainda atual Governador Civil. Ao Dr. Santinho Pacheco, pelo apoio incondicional que deu ao IPG, o nosso sincero agradecimento, fazendo votos para que outros sigam a sua forma de estar, ainda que a muitos outros incomode.
Por: Constantino Rei
* Presidente do Instituto Politécnico da Guarda